quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Uma questão de tempo e de cor.


(Escrito em 15/12/2008)
Colegas de todas as idades

Em 1973, após concluir o 4º ano primário, deixei o interior de Alagoas para estudar na capital pernambucana. Dez anos depois, quando deixei para trás as terras do Leão do Norte, eu já era um adulto, tendo lá vivido toda a minha adolescência.

No último sábado, dia 13, voltei ao Recife para participar, pela primeira vez, de um encontro dos antigos colegas do Colégio Nóbrega. Vinte nove anos haviam se passado sem que eu tivesse visto a maioria absoluta dos meus colegas.

Não vou me dar o trabalho de tentar descrever os sentimentos que me acompanharam no percurso, tanto na viagem de Maceió a Recife, quanto da casa da minha irmã, onde eu me hospedava, até o local do encontro, porque estes eram tantos que só enumerá-los já seria uma tarefa árdua, mas com certeza foram momentos de muita ansiedade para mim. Além de ansioso eu também estava preocupado, pois, após tantos anos, será que eu seria capaz de reconhecer meus antigos colegas de colégio? E mais, será que eles me reconheceriam?

Chegando ao Empório Marítimo, bar aprazível localizado às margens do rio Capibaribe, fui me aproximando do local e avistei muitas pessoas em grupos diversos. Ia passando pela calçada e olhando para as mesas, tentando achar algum rosto familiar. De repente, numa mesa, uma turma começou a gritar e chamar pelo meu nome. Olhei e vi uma mesa com um grupo de pessoas que não reconheci, mas, para minha salvação, eles me reconheceram e aí não havia dúvida, parti para o abraço! Foi uma tarde e um início de noite ótimo. Velhas histórias, muito barulho, muitas notícias e fortes abraços.

Quando vi a cara dos meus colegas, imaginei logo, como será que está a minha? Com certeza eu estava com cara de felicidade, sentindo aquele gosto gostoso de retorno a um meio que me era tão valioso. Mas as medidas das cinturas e a cor dos cabelos daqueles que ainda os tinham, era um indício forte do lapso de tempo que nos separou. Mas nada se comparava ao prazer de poder estar ali, entre eles, relembrando velhas histórias e ouvindo novas.

Dentre os presentes estava Jaime Vasconcelos, o meu primeiro amigo quando ingressei no colégio. Das histórias que ouvi, foi a dele a que mais me impressionou. Tentando ajudar um amigo que queria adotar uma criança, numa cidade do interior pernambucano, ele procurou o Conselho Tutelar. Já no primeiro contato, foi informado que havia uma criança com as características desejadas e ele então foi levado até ela. Encontrando a garotinha nos braços de outra menina maior, pensou tratar-se de um gesto de solidariedade entre as crianças que compartilhavam aquele ambiente, no entanto, foi informado que a garotinha que ele pretendia adotar era parte de uma família de cinco crianças, cujos pais perderam a guarda dos filhos, estando todos eles abrigados no órgão de tutela. Percebendo que a adoção da garotinha significaria a fragmentação daquela já desafortunada família, Jaime tomou a decisão mais corajosa que já vi na minha vida. Sendo pai de dois filhos, adotou os cinco irmãos.

É colegas, Jaime adotou os cinco. CINCO.

Quantas surpresas a vida nos reserva. Viajei cerca de trezentos quilômetros para encontrar velhos amigos, ansioso para ver seus rostos, ouvir suas histórias, tomar umas e outras e dar umas boas risadas, mas a melhor de todas as histórias não teve nenhuma relação com a formação escolar ou carreira profissional, mas sim com a capacidade humana de amor e doação.

Hoje gostaria de cumprimentar a todos os colegas da turma A de 1979 do Colégio Nóbrega, porque eles são muito mais do que colegas de uma antiga turma de colégio, eles são o laço que eu tenho com as terras pernambucanas e, em particular, gostaria de saudar o meu amigo Jaime Vasconcelos pela sua vida que é um exemplo para todos nós.

O encontro foi gratificante e eu pude voltar para casa com a certeza de ter restabelecido laços que eram tão significativos pra mim, mas ficou uma dúvida: Porque será que os meus colegas perderam os cabelos ou estes mudaram de cor para a tonalidade branca, enquanto que a parcela feminina da Turma A, sob as mesmas circunstâncias, ostentava belos penteados das mais diversas cores, exceto a branca? É um mistério... é um mistério.

Desejo a todos uma ótima semana e hoje, excepcionalmente, mando a todos minhas saudações mamelucas.

Saúde e paz,

Virgílio Agra.

OBS: Nada melhor que uma música de Capiba para representar minha ligação com Recife, aqui na voz do grande Alceu Valença


Um comentário:

Ute Ana Lira disse...

Olá Virgílio sou amiga de infância de Becca e fiquei excepcionalmente emocionada com este post. Amigos são partes de nossa história e muitas outras histórias fazem parte dos nossos amigos e que bom seria se fizéssemos parte de todas elas, mas a vida nos leva a outros rumos. Um grande Abraço.

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