(Escrito em 18/01/2009)
Colegas de todos os estilos ortográficos
Acho interessante, nos dias de hoje, o tempo gasto em discussões sobre a nova reforma ortográfica. O assunto é tratado como se fosse uma grande novidade, algo nunca visto, no entanto a língua, tanto falada quanto escrita, sofre tantas alterações ao longo da história que me faz pensar tratar-se de uma grande perda de tempo essa celeuma toda criada em torno deste movimento de unificação da língua portuguesa.
Se quisermos falar sobre as alterações da língua ao longo do tempo, não precisamos ir muito longe para encontrar bons exemplos de que isso ocorre constantemente. Basta prestarmos atenção aos "americanalhismos", inexistentes no nosso falar a 50 anos e tão presentes no nosso dia-a-dia de hoje, como é o caso do uso de termos como "shopping center", "pet shop", "fast food" e "ciber café".
Além das influências que recebemos das diversas línguas estrangeiras, acho muito interessante as alterações sofridas pelo idioma em certas áreas, como a saúde por exemplo. Nos tempos em que minha avó morreu de TUBERCULOSE, dizia-se que o doente morreu TÍSICO, mas hoje inventaram uma moda de dizer que "o paciente está com TB".
Ainda garoto, li um romance no qual um dos personagens estava doente de um CARCINOMA, tempos depois é que soube que aquele termo referia-se a um CÂNCER que hoje é tratado como CA. Alegam os técnicos da área que o uso desses códigos facilitam a comunicação e evitam a “exposição” dos pacientes perante a opinião pública. Sejamos razoáveis, eu sei que só o ato de pronunciar o termo CAR-CI-NO-MA já dá uma irritação na garganta, mas me permitam um só questionamento: Chamar CÂNCER de CA, por acaso, altera em alguma coisa os sintomas da doença ou o sofrimento do paciente? Um bom investimento em pesquisa com certeza fará um efeito muito melhor do que essa mudança estéril de nomenclatura.
Quando eu era adolescente o grande medo dos rapazes da época era "pegar" uma doença venérea. Havia uma boa variedade de doenças venéreas e a maioria delas tinha mais de um nome, como BLENORRAGIA que também era conhecida como GONORRÉIA e outras mais que eu até prefiro nem citar. Eu tenho que admitir que, havia uma variedade grande de nomes para uma mesma doença, mas na hora de unificar a terminologia não tem quem me convença que não houve exagero. Hoje, todas elas são chamadas simplesmente de DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis).
Antigamente o sujeito sofria um DERRAME, hoje sofre um AVC. É tanta sigla que acho que vou ter que voltar para o ABC novamente, só para aprender os nomes dessas doenças todas.
Foi neste contexto de modernidade, em que o rol das doenças é composto por nomes que mais parece uma sopa de letras (lembram-se do campeonato alagoano?), que minha mãe, residente em terras baianas à beira do Velho Chico, estava conversando com uma amiga, ambas da "melhor idade" e, papo vai, papo vem, a conversa rolando solta sobre os mais diversos assuntos, até que minha mãe falando com sua interlocutora sobre uma amiga comum perguntou:
- Você ouviu dizer que "fulana" está com um CA?
E a outra sem saber que a saúde brasileira já havia sofrido a sua própria "Reforma Ortográfica" respondeu:
- E eu sei lá qual é o carro dela?
Também pudera, o que mais se vê hoje em dia são carros com nomes de KA, C3, C4, A1, L200. São nomes tão esquisitos que não é de se estranhar que a coitada tenha se confundido.
Colegas, neste momento em que desejo a todos uma boa semana, gostaria de agradecer a todos os caetés, honorários ou de nascimento, que felicitaram a mim e minha esposa pelo nosso aniversário de casamento e aproveitar a oportunidade para felicitar o caeté honorário Jerailton Viana que, lá das terras da cachoeira de Paulo Afonso, completou 3 anos de casado no mesmo dia 12 de janeiro. Um grande abraço a todos.
Saúde e paz,
Virgílio Agra.
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