domingo, 14 de abril de 2013

Pimenta na sopa dos outros é história


A Usina Apolônio Sales
é uma das componentes do complexo hidrelétrico de Paulo Afonso.

Colegas de todos os paladares

Numa dessas voltas que esse mundo dá, tive a oportunidade de trabalhar durante alguns poucos anos da minha vida na Companhia Hidro Elétrica do São Francisco - CHESF, empresa estatal responsável pela geração de energia para todos os estados do Nordeste, exceto o Maranhão. O meu ingresso se deu, como manda a legislação, através de concurso público e desse modo passei a compor o quadro dos Operadores de Instalação da companhia. Trata-se por Instalação, uma usina ou uma subestação e o trabalho de um Operador consiste em acompanhar o funcionamento dessas unidades e intervir sempre que necessário.

Nos tempos em que compus os quadros da CHESF trabalhei na Usina Apolônio Sales - UAS, usina localizada à margem esquerda do Rio São Francisco, no estado de Alagoas. A UAS contava, já naquela época, com um bom sistema de automação, no entanto fazia parte da rotina de trabalho dos operadores, a realização de inspeções constantes das suas instalações. Nestas ocasiões eu me sentia como se estivesse numa terra de gigantes, pois tudo era enorme. Havia pontos que, não importava quantas vezes eu inspecionasse, sempre me provocava admiração. Um desses locais era o chamado Poço da Turbina, lá o Operador ficava num local onde abaixo dele a força do rio girava a turbina e acima da sua cabeça girava um imenso gerador. Ligando uma peça a outra, um eixo vertical de diâmetro tão grande que um homem não conseguiria abraçá-lo. Os parafusos que uniam essas peças gigantescas tinham porcas tão grandes que um adulto não conseguiria segurar duas delas em uma única mão. O barulho era enorme e circulava um ar tão quente que mais parecia uma sauna.

O sistema de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica é algo simplesmente grandioso e, até hoje, considero que a oportunidade de ter feito parte deste todo, foi a satisfação de um antigo fascínio que alimentei desde os tempos de criança. Muitas vezes eu ficava admirado pelo fato de que o trabalho que eu executava lá no sertão da Bahia influenciava pessoas que estavam a milhares de quilômetros de distância. Naquele serviço, máquinas e pessoas tinham que trabalhar em perfeita sincronia e ninguém podia fazer nada sem que fizesse parte de uma manobra previamente estudada.

As recordações que guardo não são compostas, naturalmente, apenas pelas máquinas e grandes estruturas de concreto. O convívio com os colegas, tanto técnicos como engenheiros, me marcaram de tal maneira que precisaria escrever muitas Saudações para que eu pudesse registrar as boas lembranças que guardo até os dias de hoje. 

O quadro de pessoal lotado numa usina é basicamente dividido entre operadores e mantenedores. O pessoal de manutenção trabalha normalmente de segunda à sexta-feira no horário comercial, enquanto os operadores trabalham em regime de turno corrido de seis horas, revezando-se continuamente todos os dias do ano, ininterruptamente. Mas nem sempre foi assim, houve época em que os operadores trabalhavam num turno de 24 horas, até que, gradativamente, este sistema foi sendo alterado até chegar à configuração atual.

No tempo em que os turnos eram longos, de 24 ou 12 horas, a companhia fornecia as refeições para toda a equipe. Nos horários das refeições os Operadores se revezavam e, em duplas, iam se alimentar enquanto os outros tomavam conta do serviço. Nesta época trabalhou como operador um rapaz chamado Reginaldo Barros. Eu tive oportunidade de conhecê-lo socialmente, mas quando comecei a trabalhar na CHESF ele já estava aposentado. Reginaldo foi um bom operador e deixou boas lembranças, mas a sua característica mais marcante era o seu bom humor. O cara era um gozador nato, não perdia uma única oportunidade de pregar uma peça em alguém. Os colegas contavam que naquela época, à noite, era servida uma sopa. Certo dia, Reginaldo foi jantar e, sem que o parceiro percebesse, jogou pimenta em um prato. Em seguida, perguntou se poderia servir ao colega que, ingenuamente, aceitou. Com calma e "zelo" colocou a sopa no prato e ao terminar perguntou:

 - Você quer pimenta?

O coitado sem perceber nada respondeu que sim e Reginaldo colocou umas gotas do condimento, mexeu a sopa e passou o prato. Em seguida colocou sopa para ele próprio e também colocou algumas gotas da mesma pimenta. Quando começaram a comer o colega começou a sentir a boca queimando e disse:

 - Vixe Maria, que pimenta forte!

Romildo sem se abalar continuou a tomar a sopa e ainda colocou umas gotas de pimenta a mais. O colega já suando, a boca ardendo, vendo que o outro colocara mais pimenta só dizia:

 - Danou-se. O homem parece um sabiá.

Falava isso em alusão ao pássaro bastante encontrado no sertão e que tem o hábito de comer as frutinhas maduras das pimenteiras. Eu tenho a impressão que o sujeito tomou a sopa toda para mostrar que era durão, mas quando o mistério foi esclarecido todos deram boas risadas e as astúcias de Reginaldo entraram para a história.

Enquanto isso, nos dias atuais, uma notícia veiculada num telejornal do estado Caeté anunciou o impacto causado na capital pela presença da empresa de construção civil mais sexy do mundo. Vejam como a repórter anunciou a matéria:

 - "Boom da construção civil provoca falta de corretores de imóveis em Maceió".

Pois bem meus amigos, parece que neste carnaval as passistas de bundas e peitos turbinados enfrentaram uma séria concorrência. A todos, espero que tenham tido um bom feriado, que retornem às atividades do dia-a-dia sem ressaca e muitas felicitações às mulheres pelo seu dia.

Saúde, luz e paz

Virgílio Agra

(Escrito em 08/03/2011)

Em 1950 Luiz Gonzaga foi convidado para animar a festa de inauguração da Usina Paulo Afonso I, após o show, pediram-lhe que compusesse uma música exaltando essa grande obra da engenharia nacional. Atendendo o pedido, Luiz compôs a música "Paulo Afonso" que segue aqui:


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