quinta-feira, 22 de março de 2012

Comedor de farinha

Casa de Farinha - Obra do Mestre Vitalino
(escrito em 02/06/2009)

Colegas de todos os apetites.

Quem gosta mais de farinha? Um alagoano ou um carioca?
Pensem... pensem... pensem mais um pouco...

Eis que no último final de semana tive a felicidade de reencontrar uns velhos amigos. Encontramo-nos eu, Tetéu, Ezequiel e Animal. Foi uma tarde agradabilíssima, onde pudemos relembrar velhas histórias e apreciar o novo colorido capilar uns dos outros. Entre uma cerveja e outra descobri os dotes culinários do meu amigo Tetéu, carioca, torcedor do fluminense e o maior comedor de farinha que conheci em toda minha vida.

Quando ainda éramos estudantes, eu cursava engenharia e eles jornalismo. Eu estudava de manhã e eles no horário da tarde. A princípio não teríamos motivos para nos tornarmos amigos, exceto pelo fato de que a namorada de Tetéu e a minha estudavam juntas e este talvez tenha sido o fator de estabelecimento dessa boa amizade. Apesar de eu ser da área de Ciências Exatas e eles das Ciências Humanas, compartilhávamos ideais comuns e acredito que esse convívio tenha influenciado nessa minha mania de ficar escrevendo para os amigos. Como ninguém é de ferro, sempre que podíamos, usávamos a velha desculpa de bater um papo para tomarmos, de vez em quando, uma "cervejinha" bem gelada. Na hora de pedir um tira-gosto, tomávamos sempre dois cuidados, o primeiro é que este tinha que ser o mais barato e o segundo é que tinha que vir acompanhado com farinha, porque Tetéu só comia com aquele complemento.

Certa feita, nós fomos passar um final de semana na casa dos meus pais em Paulo Afonso, lá no sertão baiano. Lá passeamos, visitamos os canions do São Francisco e em casa minha mãe se esmerava por receber bem os meus amigos. As mães você sabem como são, dentre outras coisas, sempre se preocupam se seus filhos estão bem alimentados. Durante as conversas que tínhamos à mesa ela descobriu que Tetéu era um grande comedor de farinha e, visando agradar, presenteou-o com um saquinho deste produto, algo em torno de 2 a 3 kg. Não era uma farinha qualquer, era uma farinha bem alvinha e bem fininha, que denominávamos "Farinha de Sergipe". Quando o carioca pegou o pacote, parecia jogador de futebol americano quando pega aquela bola que não é uma bola. Partiu para o quarto para abrigá-la imediatamente no fundo da sua mala. Só faltou gritar "touch down".

Em Maceió, Tetéu morava em uma casa com outros estudantes, vocês sabem como é, para rachar as despesas. Porém eu soube que só as despesas foram compartilhadas, porque a farinha... ele escondeu em baixo da cama e não dividiu com ninguém.

Caros colegas, numa semana em que um jornal local divulgou um relatório do Conselho Nacional de Justiça - CNJ, no qual alguns desembargadores são acusados de terem proferido decisões que significaram uma grana extra nos seus próprios bolsos, a imprensa mundial noticiou que um avião despencou no Atlântico fazendo mais de 200 pessoas virarem comida de peixe e eu trabalhei feito a peste, só me resta noticiar que, após muita chuva, em terras caetés o sol voltou a brilhar, o mar está calmo e o céu está azul... muito azul.

Aproveito a oportunidade para, tardiamente, desejar a todos uma boa semana e aos tripulantes da corveta Cabocla, que partiu do porto de Maceió para procurar pedaços do avião caído, muito sucesso na sua missão.

Saúde e paz

Virgílio Agra.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Remédio para os nervos


(escrito em 24/05/2009)
Colegas de todas as receitas caseiras
A cultura popular é de uma variedade espantosa. Variedade esta que se manifesta na música, na culinária, nas manifestações religiosas, vestimentas, falares e, como não poderia deixar de ser, nas fórmulas e receitas contra todos os tipos de mazelas. De família para família, de região para região estabelece-se a crença na capacidade curativa dos mais diversos elementos, desde ervas que podem ser plantadas num vaso numa varanda, até remédios, comercializados normalmente nas farmácias, aos quais se atribui a capacidade de curar males além daqueles com indicação constante na bula.
Esta semana, adentrando a uma farmácia próxima a minha casa, verifiquei nas suas prateleiras alguns rótulos, velhos conhecidos. Lá estavam o fortificante Biotônico Fontoura, que como o próprio nome diz é o tônico da vida. Encontrei também o tradicional Leite de Magnésia de Philips, que pelas suas propriedades laxantes acredito ser produto muito consumido no meio político deste país. Outro produto que me chamou a atenção foi o Elixir Sanativo, cicatrizante produzido desde 1888, muito usado no Nordeste, o qual eu mesmo dou testemunho da sua eficiência. Um remédio que me chamou particularmente a atenção foi a Emulsão Scott. Este último trata-se na verdade de óleo de fígado de bacalhau e é usado há muitas décadas contra os casos de carência de vitamina D. Comercializado em frascos em cujos rótulos aparece um homem carregando um grande peixe amarrado às costas, ficou conhecido popularmente como "o remédio do homem com o peixe nas costas" ou simplesmente "o remédio do peixe nas costas".
Quando morei no sertão, minha esposa foi durante alguns anos chefe do Centro de Saúde de Olho D'água do Casado – AL, uma pequena cidade da região. Certo dia chegou ao seu conhecimento um diálogo ocorrido entre duas mulheres enquanto esperavam atendimento.
Uma delas falou:
- Mas "mulé", eu ando num "nelvoso", mas num "nelvoso" tão grande "mulé", que já não sei o que fazer.
- "Apôis mulé", vou "lhe" ensinar um remédio que é bom demais.
- "Vige mulezinha".. "Apôis" diga logo que tô muito precisada.
- "Ói". Pegue três ovos de pata de "premeira" postura, mas só serve se for de "premeira" postura, bata no liquidificador com um frasco de "peixe nas costa" e tome com um comprimido de "clorofenicol" que é "tiro-e-queda".
Naturalmente esta "receita" deu muito o que falar. O ingrediente que mais chamou a atenção foi o tal do "clorofenicol", que soubemos posteriormente tratar-se de um antibiótico usado entre outras coisas em alguns casos de febre tifóide e cujo nome correto é cloranfenicol.
À semana passada não pude escrever para vocês por conta de uma série de fatores, trabalho, família e outros compromissos mais. Além disso, tive o desprazer de ouvir um deputado declarar que está se "lixando para a opinião pública" enquanto outro, apesar de estar com a carteira de motorista cassada, dirigiu bêbado, em alta velocidade e matou dois jovens. Todos esses acontecimentos na verdade me deixaram com um "nelvoso", mas um "nelvoso" tão grande que eu gostaria de pedir que, caso alguém tenha uma pata de "premeira" postura, por favor, me envie três ovos, porque o "peixe nas costas" e o cloranfenicol eu consigo por aqui.
Colegas, embora os noticiários nos bombardeiem com tantas notícias desagradáveis, gostaria de desejar que todos acreditem ser possível ter uma semana melhor, apesar de reconhecer que, diante da conjuntura, um desejo como este é o equivalente a contar com um ovo no... da galinha. Ou seria... da pata? Hum... Acho que tanto faz.
Saúde e paz
Virgílio Agra

domingo, 11 de março de 2012

Fazendo a feira

Santana do Ipanema - Pátio da feira em 1948

(escrito em 10/05/2009)


Colegas de todas as feiras livres

Por que será que a gente diz que foi "fazer a feira"? Ninguém faz uma feira... pelo menos não, sozinho. O que cada um de nós é capaz de fazer, no máximo, é compras na feira. As feiras surgem com naturalidade e sobrevivem com tamanha persistência que desafiam o tempo e as legislações. Na cidade de Paulo Afonso, no sertão baiano, onde morei por quase 20 anos, em certa época a prefeitura abriu um conjunto de novas ruas com um largo para abrigar a feira da cidade, a intenção era remover a feira do local onde era realizada, em ruas estreitas, para um local mais amplo. O máximo que conseguiu, foi criar uma nova feira que passou a ser denominada de Feira Grande e a antiga feira, que existe até os dias de hoje, passou a ser denominada de Feirinha.

Hoje, morando na capital das terras caetés, costumo "fazer feira" na Feirinha da Jatiúca. Como o próprio nome já diz, trata-se de uma feira pequena, uma feira de bairro, e todas as vezes que para lá me dirijo não consigo deixar de me lembrar da minha época de criança, na minha cidade natal, quando ia com minha mãe "fazer a feira". Em Santana do Ipanema a feira acontecia, como até hoje, nos dias de sábado. Porém, como os feirantes já começavam a instalar suas toldas às sextas-feiras, o moradores da cidade, se antecipavam e "faziam a feira" nas sextas à noite, enquanto os moradores da zona rural lotavam as ruas centrais da cidade aos sábados.

Lembro-me que minha mãe me levava todas as sextas, não para passear, mas para carregar as compras, esta era uma das minhas atribuições na divisão dos afazeres domésticos. Meu pai nos levava de carro, e lá chegando, entrávamos naquele burburinho de bancas, gente e mercadorias. A primeira parada era no açougue. Considerando-se as atuais exigências dos órgãos de saúde pública, eu fico a me perguntar como eu, e toda a minha geração, conseguiu sobreviver consumindo a carne que era transportada e comercializada naquele lugar. Naquela época, toda pessoa que ia "fazer a feira", obrigatoriamente, levava cestas e sacolas para ir colocando os produtos comprados. Dentre esses equipamentos obrigatórios, lembro-me que levávamos sempre um pequeno balde de plástico que era usado exclusivamente para colocar a carne. Lembro-me que algumas pessoas usavam aqueles carrinhos com rodinhas próprios para transportar as compras, mas mamãe preferia usar umas cestas de palha de ouricuri e umas sacolas de cipó muito usadas naquela época. Será que essa preferência tinha alguma coisa a ver pelo fato de que quem carregava as sacolas era eu?

Em frente ao açougue havia um galpão coberto, usado para o comércio de farinha e cereais, era o Mercado da Farinha. Convém lembrar que no Nordeste Brasileiro quando alguém fala em farinha subentende-se estar se referindo àquela feita de mandioca, caso a pessoa queira referir-se a outro tipo qualquer, de trigo, por exemplo, tem que falar expressamente, senão poderá ser mal entendido. Interessante é observar que o gosto pelo produto varia muito de um lugar para outro. Enquanto lá na região norte os amazônicos gostam de uma farinha grossa e um pouco amarelada, lá no sertão de Alagoas ela tinha que ser alva e bem fininha, sendo que, independentemente de onde fosse produzida, era chamada de Farinha de Sergipe. Visando garantir a boa qualidade da farinha que consumíamos, meus pais preferiam comprar o produto através de encomendas feitas a pessoas que a produziam ou comercializavam na região, de modo que não me lembro de um dia ter feito compras no Mercado da Farinha.

Saindo do açougue começava uma longa romaria, primeiro na Feira das Verduras, que ocorria numa área mais plana no entorno do mercado, em seguida começava um sobe e desce pela rua onde se instalava a Feira das Frutas. É de se frisar o aspecto do subir e descer, porque a cidade foi construída nas encostas das serras que formavam o Vale do Rio Ipanema e as ladeiras de Santana são umas das características da cidade.

Minha mãe, sempre zelosa, procurava as frutas e verduras melhores e com o menor preço, então ia e vinha, subia e descia, pesquisando, escolhendo e pechinchando. O problema é que eu tinha que acompanhá-la e, conforme as compras iam se efetivando, as cestas, de palha, cipó ou nylon, iam ficando cada vez mais pesadas e eu ia fazendo, semanalmente, um misto de musculação com exercícios aeróbicos.

Terminadas as compras, algumas vezes retornávamos para casa de carro com papai, mas outras vezes minha mãe mandava que eu fosse logo para casa levando uma parte das compras e então eu partia, fazendo algumas paradas para descansar e trocar as sacolas de uma mão para a outra até chegar em casa. Com o tempo eu comecei a criar um desafio para mim mesmo, quanto tempo eu aguentaria sem parar, nem trocar as cestas de mão. Quando finalmente consegui cumprir todo o percurso, sem parada nenhuma, passei a admirar as marcas das alças que ficaram impressas nos meus dedos.

Hoje, "fazendo a feira" na Feirinha da Jatiúca, observo quantas diferenças existem entre aqueles tempos e o de hoje. Nos dias de pouco movimento alguns clientes param os carros em frente às bancas e são atendidos num verdadeiro "drive thru". As barracas são equipadas com balanças eletrônicas, máquinas de calcular e ainda disponibilizam "carrinhos de supermercado" para os clientes levarem suas compras até os seus automóveis. Já existem feirantes que prestam o atendimento "delivery", recebendo os pedidos dos clientes por telefone, fazendo as entregas através de "motoboys" e aceitando até ligação a cobrar. O coco seco é quebrado e raspado na hora, e se o cliente quiser, já leva a macaxeira descascada para casa. Até agora só não vi o pagamento com cartão de crédito, mas com certeza é apenas uma questão de tempo.

As feiras de hoje são práticas, cheias de comodidades e estrangeirismos, onde encontram-se frutas que as vezes são importadas, as vezes têm nomes esquisitos como kiwi e manga tommy athikins mas, apesar da praticidade, tenho saudades da feira de Santana do Ipanema, das frutas que vinham da Serra do Poço: manga rosa e manga espada, bananas maçã, prata, anã e pão, laranjas de vários tipos, caju e jaca.

Após tantos anos, sinto o quanto foi importante para mim ter subido e descido as ladeiras da Feira das Frutas acompanhando minha mãe, carregando as cestas e sacolas que marcavam o couro das mãos. É engraçado lembrar que as marcas nas mãos desapareciam em poucos minutos, mas as lições que ela me passou estão comigo até hoje. Hoje, minha mãe "faz a feira" na Feira Grande de Paulo Afonso enquanto eu "faço a feira" na Feirinha da Jatiúca. Agora eu acompanho outra mãe, a mãe das minhas filhas, mas hoje, os tempos são outros.

Espero que todos tenham uma ótima semana.

Desejo que todos possam gozar de boa saúde, muita paz e um carinho de mãe,

Virgílio Agra.

PS - 1: Para o conhecimento de todos, informo que atualmente os cartões de crédito já são aceitos na Feirinha da Jatiúca.


PS - 2: Já que o assunto é a feira-livre nordestina, que tal ouvir a versão dessa história em forma de musica, composta por Sivuca e Glorinha Gadelha, na interpretação com sotaque nordestino do Clã Brasil.


segunda-feira, 5 de março de 2012

Aos amigos, o bom exemplo da lei

Euclides Ribeiro
(escrito em 05/05/2009)

Colegas dos matos, de todos os diâmetros.

“Aos amigos a lei, aos inimigos os rigores da lei”. Qual dos filhos desta pátria mãe gentil nunca ouviu esta frase forjada na nossa crônica política?

Eis que no final de semana que passou, viajei às terras baianas de Paulo Afonso, a capital da energia. Resolvi aproveitar o feriadão do dia do trabalhador e comemorar, antecipadamente, o dia das mães. Entre uma conversa e outra, e ao sabor daquela comida gostosa que só as mães sabem fazer, lembrei-me de um velho amigo, melhor seria dizer... um irmão, Euclides Ribeiro, um sujeito cuja história é um exemplo para os amigos e até mesmo para os inimigos.

Nascido na Paraíba em 1920, sendo, portanto, paraibano e não “paraíba”, Euclides é uma das pessoas mais íntegras que tive a oportunidade de conhecer. Devido a sua extrema retidão colecionou muitos admiradores declarados e muitos desafetos enrustidos, daqueles que ruminam calado o seu descontentamento, porque sabem que nunca faltará alguém disposto a defender um homem digno.

Filho de família humilde Euclides teve que sair de casa cedo e, através das suas andanças, terminou ingressando para os quadros da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, empresa em que trabalhou com méritos até o dia da sua aposentadoria. Em 1988 foi nomeado Secretário Municipal da Prefeitura de Paulo Afonso, cargo que exerceu por 12 anos. Durante sua gestão à frente da Secretaria de Serviços Urbanos notabilizou-se por tomar atitudes firmes e acima de tudo honestas. Dentre as suas atribuições coube a implantação do Código de Postura Municipal que regulamentava, dentre outras coisas, a atividade de transporte em veículos de tração animal, bem como a criação na zona urbana dos animais usados naquela atividade.

Como é comum em inúmeras cidades deste grande país, lá em Paulo Afonso muitas famílias sobrevivem da atividade de transporte de pequenas cargas em carroças puxadas a cavalos ou burros. Infelizmente, muitos desses carroceiros não dão aos seus animais um tratamento adequado. Após o dia de serviço, alguns proprietários, ao invés de servir aos seus animais uma boa ração, simplesmente os solta para que os bichinhos saiam catando durante a noite alguma coisa para comer, contando com a própria sorte. Além de ser desumana, esta atitude submete os animais ao risco de atropelamentos. Além do que eles, na ânsia por alimentar-se, muitas vezes danificam parques e jardins. É óbvio que o estabelecimento de uma norma que visasse conciliar a sobrevivência de várias famílias, o bom trato aos animais e a preservação do patrimônio, tanto público como o privado, permitia vislumbrar a gestão de muitos conflitos. Ciente disto, Euclides Ribeiro primeiro certificou-se do Prefeito se de fato pretendia fazer com que fosse cumprida a lei. Diante da resposta afirmativa iniciou um programa de fiscalização que conseqüentemente envolvia a apreensão dos animais encontrados à solta. Nestas circunstâncias, eles eram conduzidos para um cercado de propriedade da prefeitura onde passavam a receber um tratamento mais adequado, sendo devolvidos aos respectivos donos mediante o pagamento da devida multa pela infração cometida. Logo nos primeiros dias, começou a chegar ao seu gabinete uma série de pessoas, cujos animais haviam sido apreendidos, portando "bilhetinhos" assinados por vereadores, correligionários políticos e similares. Ao ler os tais "bilhetinhos" Euclides calmamente escrevia no verso uma mensagem destinada ao emitente nos seguintes termos:

"Senhor "Fulano" queira por gentileza enviar quantia "tal" que a guia de liberação será emitida."

Curiosamente nenhum daqueles que escreveu os tais bilhetinhos foi capaz de fazer caridade com os recursos do seu próprio bolso.

Um belo dia, estava Euclides Ribeiro no seu local de trabalho quando entrou um rapaz para falar com ele. Tratava-se de um funcionário graduado de uma importante instituição sediada em Paulo Afonso. O assunto que o trazia... vocês bem podem imaginar. O cidadão que o procurava tinha, digamos assim, a melhor das intenções. O proprietário de um burro apreendido pela prefeitura resolveu apadrinhar-se dele para reaver seu animal livrando-se da tal multa. Sensibilizado com a situação do carroceiro, que realmente dependia do animal para garantir o seu sustento, o rapaz fora à Prefeitura para tentar a sua liberação. O Secretário conhecia-o muito bem e sabia que ele estava lá por uma razão meramente humanitária, não tendo nenhuma pretensão de usufruir de alguma vantagem política. Acontece que a liberação do animal sem o devido recolhimento da multa aos cofres públicos abriria um grave precedente. Diante desta situação, Euclides Ribeiro pensou rápido e encontrou uma solução que com certeza conciliaria o desejo de atender ao pedido de um amigo com o devido cumprimento da lei. Então disse:

- Pois não meu amigo, não posso lhe negar um pedido

Meteu a mão no bolso, pagou a taxa e entregou na mão do jovem atônito a respectiva Guia de Liberação, mostrando que amizade e legalidade podem harmonizar-se muito bem.

Eu poderia ter usado este espaço para contar a vida de mais um garoto pobre, que com 47 anos não tinha sequer o curso primário completo e que conseguiu um Diploma do Curso Superior de Administração, mas, mais importante que as lições escolares que ele aprendeu, é a lição de vida e de honradez que ele nos dá.

Lamentavelmente, enquanto eu estava no sertão baiano a chuva caia forte na capital caeté. Parece que desta vez, Maceió, também conhecida como o Paraíso das Águas, teve que mudar para a classificação de purgatório. Mas, felizmente, meu bairro não sofreu com as chuvas e o sol voltou a brilhar na cidade toda.

Desejo a todos uma ótima semana de trabalho.

Saúde e paz,

Virgílio Agra
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