(escrito em 08/12/2009)
Colegas de todos os paladares.
Quando em 1973 fui estudar no Recife, não passava de um menino matuto e besta, que saia das bancas do Instituto Sagrada Família, escola que tinha no máximo duzentos alunos, em Santana do Ipanema, interior de Alagoas, para estudar no Colégio Nóbrega, uma escola que tinha milhares de alunos desde o Jardim da Infância até o antigo Segundo Grau, hoje ensino médio. Após sete anos estudando neste histórico colégio completei o ensino médio em 1979, de modo que, no último final de semana, fui a capital pernambucana me encontrar com velhos colegas de colégio e comemorar os trinta anos de conclusão daquele período escolar.
Santana do Ipanema tinha àquela época em torno de 30.000 habitantes, enquanto que Recife já abrigava milhões de almas, prédios altos, multidões nas ruas, tráfego intenso, semáforos e televisão (em preto e branco, diga-se de passagem), cuja programação começava no início das tardes. À noite, as luzes dos anúncios luminosos refletiam nas águas do Capibaribe formando imagens dignas de um caleidoscópio gigante. Chegando a cidade, cruzando o Distrito Industrial do Curado, as indústrias ali instaladas anunciavam o peso econômico da cidade e algumas indústrias me chamavam particularmente a atenção como a indústrias de pilhas Ray-O-Vac, as amarelinhas, e a fábrica de sorvetes da Maguary. A primeira por ter uma pilha enorme bem na frente da fábrica e a segunda pela lembrança do sabor dos seus deliciosos sorvetes.
Espalhadas por vários pontos da cidade havia outro tipo de indústria que atraia muito a minha atenção, eram as fábricas de refrigerantes. No Recife existiam várias delas como a Coca-Cola, Crush, Clipper, Fratelli Vita e Mirinda. A Coca-Cola tinha uma fábrica na Jaqueira onde uma grande vidraça permitia que os transeuntes pudessem ver a máquina onde as garrafas passavam para receber o refrigerante e suas respectivas tampinhas. Uma outra, acho que era a Clipper, tinha a fábrica de frente para a Avenida Cruz Cabugá, onde o espetáculo da linha de produção também podia se apreciado por todos. Quando fui morar na capital das terras mamelucas já conhecia todas aquelas marcas de refrigerantes, exceto uma, a Mirinda.
De lá para cá muita coisa mudou. A fábrica de sovertes Maguary foi incorporada pela Kibon que por sua vez foi incorporada pela multinacional Unilever enquanto que a indústria de refrigerantes passou por profundas modificações. As pequenas fábricas de refrigerantes foram compradas pelas multinacionais, as garrafas de vidro foram substituídas pelas latas e pelos vasilhames de plástico e, como que simbolizando o crescimento dessas indústrias, surgiram as garrafas de tamanho família, 1 litro, 2 litros, litrão, litraço e outras coisas mais. No entanto, lá na distante Santana do Ipanema, já havia, há muitos anos, uma Mirindão, só que não era uma bebida e sim uma mulher.
Quando em 1973 fui estudar no Recife, não passava de um menino matuto e besta, que saia das bancas do Instituto Sagrada Família, escola que tinha no máximo duzentos alunos, em Santana do Ipanema, interior de Alagoas, para estudar no Colégio Nóbrega, uma escola que tinha milhares de alunos desde o Jardim da Infância até o antigo Segundo Grau, hoje ensino médio. Após sete anos estudando neste histórico colégio completei o ensino médio em 1979, de modo que, no último final de semana, fui a capital pernambucana me encontrar com velhos colegas de colégio e comemorar os trinta anos de conclusão daquele período escolar.
Santana do Ipanema tinha àquela época em torno de 30.000 habitantes, enquanto que Recife já abrigava milhões de almas, prédios altos, multidões nas ruas, tráfego intenso, semáforos e televisão (em preto e branco, diga-se de passagem), cuja programação começava no início das tardes. À noite, as luzes dos anúncios luminosos refletiam nas águas do Capibaribe formando imagens dignas de um caleidoscópio gigante. Chegando a cidade, cruzando o Distrito Industrial do Curado, as indústrias ali instaladas anunciavam o peso econômico da cidade e algumas indústrias me chamavam particularmente a atenção como a indústrias de pilhas Ray-O-Vac, as amarelinhas, e a fábrica de sorvetes da Maguary. A primeira por ter uma pilha enorme bem na frente da fábrica e a segunda pela lembrança do sabor dos seus deliciosos sorvetes.
Espalhadas por vários pontos da cidade havia outro tipo de indústria que atraia muito a minha atenção, eram as fábricas de refrigerantes. No Recife existiam várias delas como a Coca-Cola, Crush, Clipper, Fratelli Vita e Mirinda. A Coca-Cola tinha uma fábrica na Jaqueira onde uma grande vidraça permitia que os transeuntes pudessem ver a máquina onde as garrafas passavam para receber o refrigerante e suas respectivas tampinhas. Uma outra, acho que era a Clipper, tinha a fábrica de frente para a Avenida Cruz Cabugá, onde o espetáculo da linha de produção também podia se apreciado por todos. Quando fui morar na capital das terras mamelucas já conhecia todas aquelas marcas de refrigerantes, exceto uma, a Mirinda.
De lá para cá muita coisa mudou. A fábrica de sovertes Maguary foi incorporada pela Kibon que por sua vez foi incorporada pela multinacional Unilever enquanto que a indústria de refrigerantes passou por profundas modificações. As pequenas fábricas de refrigerantes foram compradas pelas multinacionais, as garrafas de vidro foram substituídas pelas latas e pelos vasilhames de plástico e, como que simbolizando o crescimento dessas indústrias, surgiram as garrafas de tamanho família, 1 litro, 2 litros, litrão, litraço e outras coisas mais. No entanto, lá na distante Santana do Ipanema, já havia, há muitos anos, uma Mirindão, só que não era uma bebida e sim uma mulher.
Mirindão era louca e mendigava pelas ruas de Santana e, infelizmente, vivia sendo atormentada pelos moleques que insistiam em apelidá-la. Nunca soube qual o seu verdadeiro nome, mas, segundo uns velhos amigos do bairro da Maniçoba, ela detestava a alcunha de Mirindão. Todos os dias, na ida, ou na vinda da escola, quando a molecada avistava a pobre coitada começava o jogo de gritar o seu apelido.
- Mirindão - gritava um.
- Mirindão - gritava outro.
A coitada se aperreava, gritava um monte de palavrões, atirava pedras e nada fazia os meninos pararem. Finalmente, como último recurso contra os gritos da molecada, posicionava-se bem de frente para os meninos e levantando a saia com as duas mãos; gritava:
- Olhe aqui o mirindão.
Era o que os meninos queriam. Após apreciarem o "click" paravam a gritaria e saiam sorrindo e satisfeitos para os seus destinos.
A fábrica da Mirinda fechou antes que eu tivesse oportunidade de provar o seu produto, logo, eu nunca provei Mirinda. Também nunca conheci pessoalmente Mirindão, mas, a bem da verdade, desde que provei a fruta pela primeira vez nunca mais deixei de gostar de refrigerante.
No último sábado, após um passeio com minha filha Janaína no Parque da Jaqueira, perto da antiga fábrica da Coca-Cola, paramos num mirante às margens do Rio Capibaribe para apreciar a vegetação de mangue que agora delineia todo o percurso do velho rio. Falei para ela das modificações da paisagem urbana da cidade e disse-lhe que, quando fui morar naquela cidade, os mangues eram indesejados porque, entre outras coisas, impediam que as pessoas vissem o reflexo das luzes nas águas do rio. Nos novos tempos o conceito de beleza urbana mudou e o verde das plantas é extremamente valorizado.
À noite, durante o encontro em que comemorávamos os trinta anos da conclusão do nosso período colegial, curiosamente, comentávamos sobre nossos filhos que estão nos dias de hoje completando esta fase das suas formações. O tempo passou e um novo ciclo se formou, mas, apesar do efeito que o tempo provocou sobre a cor, ou a quantidade dos nossos cabelos, o prazer de viver cultivando boas amizades é cada vez melhor, como uma fruta que amadurece no pé.
Colegas, aproveitando a oportunidade para desejar a todos uma ótima semana, gostaria de felicitar Janaína que hoje está completando mais um aniversário e também minha filha Juliana que ao concluir o seu ensino médio completa um ciclo que um dia comecei e também concluí.
Saúde, luz e paz.
Virgílio Agra.
PS: Dentre as marcas e nomes que marcaram os meus tempos de Recife, um deles foi o das Casas José Araújo, "onde quem manda é o freguês". Só a título de lembrete, vai aqui uma antiga propaganda dessa loja que transformou-se num grande sucesso carnavalesco, uma colaboração do meu compadre Evaldo, grande folião do incomparável carnaval de Olinda.
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