Juá, o fruto
(Escrito em 10/01/2010) Colegas de todos os goles Qual a sua cerveja favorita? No mundo globalizado onde existem várias opções deste produto, tanto nacionais como importadas, não deixa de ser pertinente uma pergunta como essa, mas em tempos passados, em vários pontos do interior deste grande país, cerveja era uma bebida tão exótica quanto o amazônico açaí, que atualmente está em moda nas grandes cidades e ainda é desconhecido nas cidades do interior. Em dezembro fui a Paulo Afonso, passar o natal com meus pais e beber um pouco da água do Velho Chico. Casualmente, encontrei com Petrúcio, um velho amigo que trabalhou muitos anos na Companhia Hidro Elétrica do São Francisco e hoje goza da sua bem merecida aposentadoria. Petrúcio é natural de Água Branca, cidade situada numa região de serras que compõe a parte oeste do estado de Alagoas, e está a 570 metros acima do nível do mar. Por conta da altitude toda a região serrana tem um clima diferenciado em relação ao sertão que a circunda, de modo que lá existe uma boa produção de frutas e cana-de-açúcar o que proporcionou, em tempos passados, o surgimento de muitos engenhos para a produção de rapadura.
Apesar
do micro-clima das regiões de serras proporcionar condições para a produção
de espécies cujo cultivo seria simplesmente impossível nas terras mais baixas
e secas, não existem grandes diferenças na flora predominante em ambas as
regiões. A vegetação do sertão é assim, composta de cactáceas como mandacaru,
facheiro, xique-xique e coroa de frade, árvores para produção de madeira e
lenha como catingueira, mulungu, caraibeira, baraúna, aroeira e pau d’arco,
além de fruteiras nativas como umbuzeiro, quixabeira e juazeiro.
O
juazeiro é uma árvore que, independentemente da intensidade da seca, mantém
uma copa firme e suas folhas sempre estão verdes. Seus frutos são redondos, pequenos
e produzidos fartamente. Normalmente são doces, mas sempre produzem na boca
um leve amargor. O sabor amargo devesse ao fato do juazeiro ser rico em
saponinas, uma substância de efeito detergente, antifúngica e
antiinflamatória, com eficácia comprovada na higiene bucal. Atualmente as
indústrias farmacêuticas e de cosméticos utilizam os seus princípios ativos
na composição de diversos produtos. O sertanejo que secularmente já conhecia
as propriedades terapêuticas da árvore, na falta dos cremes dentais, usava o
pó da casca da árvore para escovar os dentes ou fazia infusão para bochechos
ou gargarejos contra afecções da boca e garganta.
No encontro que tive com o amigo, após as tradicionais perguntas sobre como vai a família e coisa e tal, relembramos uma história que ele havia me contado há alguns anos atrás e não pudemos deixar de dar algumas risadas. Contou-me Petrúcio que, quando ainda era rapaz, morava num sítio na zona rural de Água Branca. Certo dia, ele foi a um casamento na redondeza. Um casamento no sertão era festa boa. Mesmo não sendo rica, a família da noiva esmerava-se por receber bem os convidados. Receber bem significava uma mesa farta, com aquilo que o sertanejo tinha de melhor a oferecer: carne a vontade, galinha de capoeira gorda, um carneiro, buchada, feijão de corda, arroz e pirão. Para animar: um sanfoneiro, um salão para dança e uma rodada de cachaça para "esquentar a titela" (esquentar o peito). Após a cerimônia religiosa a festa começou até que, em dado momento, um dos padrinhos convidou a todos para conhecer uma novidade que ele trouxera da cidade para os convidados da festa. Uma vez dita a palavra NOVIDADE, todos se interessaram em acompanhar o homem que se dirigiu a um depósito que fazia parte das instalações da propriedade e encontrava-se fechado até então. Ao abrir a porta do tal depósito o homem caminhou na direção de uma estranha caixa de madeira cheia de garrafas que estava colocada num canto do salão. Tomando uma das garrafas na mão o homem explicou a todos que aquilo era uma bebida chamada CERVEJA e diante da admiração de todos tirou do bolso um abridor de garrafas e abriu a primeira delas. Considerando-se a temperatura em que se encontrava a bebida o resultado não pode ser outro, a cerveja espumou e começou a subir pelo gargalo da garrafa. Imediatamente o homem começou a colocar o líquido espumoso nos copos dos convidados. Aqueles que vertiam os copos imediatamente só bebiam espuma e aqueles que esperavam a espuma se desfazer descobriam que o líquido resumia-se a apenas alguns milímetros no fundo do copo. Decidido a impressionar a matutada em redor e mostrando ser um "profundo" conhecedor de cerveja, o portador daquela novidade começou então a balançar as garrafas antes abri-las. A partir de então, quando retirava as tampinhas, a garrafa dava um pequeno estouro, a espuma então subia com mais pressão e todos davam gritos de alegria e colocavam os copos para mais uma rodada de espuma. Petrúcio, no meio daquele povo todo, provou da bebida e com aquele jeito de quem tenta estabelecer uma comparação com um sabor já conhecido disse: - Oxente! Parece com água de juá.
Por
incrível que pareça, eu que já tive oportunidade de me escovar com a raspa da
casca do juazeiro posso confirmar, seu gosto amargo realmente lembra o sabor
da cerveja.
Pois bem caros colegas, enquanto desejo a todos uma ótima semana de trabalho, espero que, entre as atribulações de cada um, possa sobrar um tempinho para tomar uma cervejinha gelada, da marca que melhor apetecer e com um pequeno colarinho para não perder a elegância. Mas atenção, se for dirigir não beba e se for beber me chame. Saúde, luz e paz. Virgílio Agra |
Juazeiro,
a árvore
O juazeiro é uma árvore tão marcante na cultura sertaneja que cidades importantes foram batizadas com o seu nome. Além disso, esta árvore também já foi inspiração para músicas como "Juazeiro" de Luiz Gonzaga.
Fruto dessa sinergia entre árvore, cidades e música surge um verdadeiro clássico da música nordestina, "Juazeiro Petrolina", composta em 1978 por Jorge de Altinho, gravada inicialmente pelo Trio Nordestino, e aqui interpretada por Elba Ramalho, natural de Conceição - PB e Geraldo Azevedo, da própria Petrolina.
Fruto dessa sinergia entre árvore, cidades e música surge um verdadeiro clássico da música nordestina, "Juazeiro Petrolina", composta em 1978 por Jorge de Altinho, gravada inicialmente pelo Trio Nordestino, e aqui interpretada por Elba Ramalho, natural de Conceição - PB e Geraldo Azevedo, da própria Petrolina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário