quinta-feira, 3 de abril de 2014

Gato na energia



Colegas de todos os prazeres e ética também
Estou escrevendo hoje para dar uma notícia muito simples e curta a qual eu começaria escrevendo assim: Gato na energia provoca interrupção no...

Como eu falei antes, a notícia "começaria" desta maneira, mas, para minha tristeza, não posso começar assim e preciso explicar o porquê. Estava este simples caeté prestando seus humildes serviços à justiça eleitoral no Fórum Eleitoral de Maceió quando, de repente, faltou energia no prédio. A sala em que eu me encontrava, sem qualquer fonte de iluminação natural, ficou completamente às escuras. Saí tateando, primeiro porque lá dentro não dava para enxergar nada e segundo porque a atribuição de identificar o motivo da interrupção de energia e adotar as providências para o seu devido restabelecimento era minha. O Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas estava, como ainda está, realizando o recadastramento eleitoral com biometria em todo o estado. No momento da falta de energia o Fórum Desembargador Moura Castro estava lotado e, para completar a situação, havia uma fila de eleitores digna de qualquer agência do INSS deste grande país. O prédio de dois pavimentos tem aos fundos, no andar superior, uma espécie de varanda que na verdade é uma área de circulação e quando eu cheguei lá, já havia uma verdadeira plateia instalada, todo mundo olhando para o recinto que abriga a subestação. Quando eu me aproximei uma colega foi logo dizendo:

 - Eu vi um fogo saindo de lá, aí então deu um estrondo.

O ruído do grupo-gerador que é acionado automaticamente para garantir alguns circuitos essenciais, não deixava dúvida, não se tratava de um desligamento de um simples disjuntor, houvera sim uma interrupção na entrada de energia. Comecei a descer as escadas, um colega perguntou o que eu faria e respondi que a primeira coisa a fazer seria inspecionar o local para saber o que acontecera. A resposta foi rápida:

 - Num vá não que pode ser perigoso.

Hora essa, eu, um ex-operador da Subestação Moxotó, lá nas bandas da Cachoeira de Paulo Afonso, não iria me assombrar com uma interrupçãozinha de energia numa subestação de prédio. Primeiro eu tinha de saber o que havia acontecido internamente, para em seguida acionar, caso fosse necessário, a companhia de energia. Ademais, dezenas de servidores e funcionários dependiam do restabelecimento do fornecimento de eletricidade para atender centenas de eleitores. Mandei buscar a chave do portão da subestação, uma demora que daria um capítulo a parte, e finalmente, na companhia de mais uns três colegas entramos na subestação. O barulho do gerador era ensurdecedor e eu primeiro procurei examinar os quadros de comando e distribuição para ver se encontrava alguma irregularidade, mas foi Edvaldo, um colega da informática, quem descobriu o motivo da falta de energia. Um filhote de gato estava estendido no chão próximo ao barramento de 13,8 Kv. O felino havia recebido um choque de 13.800 volts e, por incrível que pareça, estava vivo, deitado e miando. Alguns minutos após a nossa descoberta chegou ao prédio uma equipe da distribuidora de energia que constatou que o curto-circuito provocara a queima de dois fusíveis no poste, duas "tabocas" como dizemos por aqui.

Acredito que o bichano tenha entrado na subestação espremendo-se no espaço entre o portão de acesso e o chão. Internamente, a chave seccionadora, o disjuntor, o transformador e o gerador são separados uns dos outros por paredes e, na parte da frente de cada um deles, existe outra grade telada que vai do chão até a altura das paredes divisórias. Uma vez dentro do recinto o gato deve ter escalado a tela interna, resolveu dar um pulo sobre o barramento de 13,8 Kv e KABUUMMM. Eu tenho certeza que se fosse eu, ou um de vocês, que tivesse levado um choque daqueles, teríamos partido para o "beleleu" de imediato. Mas como os gatos têm sete vidas esse gatinho, apesar dos sinais visíveis de queimaduras nas patas, ainda conseguia andar se arrastando.
Uma vez levantada a situação fomos à ação. Eu, Edvaldo e Otaviano, nosso eletricista, além dos colegas da companhia de distribuição desencaixamos a tela do compartimento do disjuntor e puxamos o gato para fora. Uma vez eliminado o problema, novos fusíveis foram colocados e se fez a luz.

Considerando-se que aqui no Brasil uma ligação clandestina de energia é chamada de gato, se eu começasse escrevendo que um gato na energia havia provocado a interrupção dos trabalhos de recadastramento biométrico em Maceió o que vocês iriam pensar? Eu aposto que todos, sem exceção, iriam pensar que o Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas estaria furtando energia elétrica e eu com certeza não poderia permitir que pensassem isso da instituição à qual eu sirvo. É por isso que no início deste texto eu falei que a notícia era simples e curta, mas por uma questão de ética eu jamais poderia ter começado a escrevê-la da forma como eu gostaria, mas vocês têm que admitir, seria prazeroso começar escrevendo assim. Para evitar um mal entendido, preferi me privar deste prazer e escrever o fim da história primeiro, para depois escrever o começo.

Somente para finalizar, gostaria de informar que uma colega compadeceu-se do gato e levou-o a um veterinário para tentar sarar suas feridas, mas Arrepio, como foi batizado, terminou morrendo alguns dias depois. Moral da história, gato na energia dá uma confusão da peste.

Caros colegas, àqueles que têm em casa algum tipo de bicho de estimação sugiro cuidado e, para todos, uma ótima semana com boa energia.


Saúde, luz e paz

Virgílio Agra

(Escrito em 22/11/2011)

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