domingo, 12 de fevereiro de 2012

Dinheiro da Besta-Fera


(escrito em 26/04/2009)

Colegas... das ruas ou da mídia.

Esta semana me lembrei de um homem que conheci há muitos anos atrás. Trata-se de João Craíba. Não sei se este era seu nome de batismo ou alguma alcunha adquirida na vida, mas era assim, com esse nome, que o conheci.

João fora empregado do meu avô Virgílio. Naquele tempo, a relação entre patrão e empregado era muito diferente do que se vê hoje em dia. A relação entre as partes era de compadrio e era normal o empregado sentar à mesa com o patrão, compartilhando o mesmo alimento.

Além da confiança que tinha do meu avô, João também tinha muito afeto pelo meu pai, como se fora seu próprio filho. No sítio onde eles moravam não havia escola, de modo que quando chegou o tempo de meu pai estudar, ele teve que ir para a cidade e, nessa ocasião, era João Craíba quem o levava na garupa do animal, numa viagem de aproximadamente 20 quilômetros. Papai ficava na cidade a semana inteira e só voltava para casa nos finais de semana.

Os anos se passaram, Papai fixou residência na cidade enquanto João Craíba continuava morando lá no Sítio Caboré. Na década de 60 o governo criou o FUNRURAL, o programa que pretendia estender ao trabalhador rural o benefício da aposentadoria. Na época formavam-se mutirões para cadastrar os trabalhadores e trabalhadoras para o usufruto do benefício e meu pai participava desta ação como uma espécie de agente público. Lembro-me que aos domingos meu pai, juntamente com outras pessoas, ia aos povoados para realizar cadastros e eu, garoto à época, o acompanhava. Nesses lugarejos eu fazia amizade com os meninos do lugar e passávamos o dia brincando e subindo em árvores, mas o que eu mais gostava, era a viagem de ida e volta de carro.

Meu pai cadastrou muitas pessoas no exercício daquela missão. Um dia, lembrou-se de João Craíba. Foi procurá-lo. Queria que ele, agora já velho, tivesse alguma renda, pequena que fosse, para mantê-lo até o fim dos seus dias. Quando tratou-lhe o assunto a resposta foi surpreendente.

- Quero não! Quero não que isso é dinheiro da Besta-Fera.

Papai ficou assustado e pediu que ele explicasse.

- "Num" quero não. Pois eu sempre ouvi dizer que, quando a Besta-Fera viesse, ia sair por aí, distribuindo dinheiro "pr'o" povo. Um "home" tem que receber um dinheiro que ele ganhou com o seu suor. Como é que eu vou receber dinheiro sem ter "trabaiado"? Prá dar "dinheiro de graça", só sendo a Besta-Fera.

Após algumas explicações João finalmente foi convencido. Fez o seu cadastro e recebeu, até o fim dos seus dias, a justa aposentadoria.

Nos dias de hoje, num país onde parlamentares, parentes e aderentes exercem o direito de ir e vir, de avião, com o dinheiro do contribuinte, é em pessoas simples como João Craíba, um sertanejo, agricultor e analfabeto que eu encontro os exemplos que eu preciso de comportamento moral e ético.

Dirigindo-me a vocês como colegas e não como capangas, gostaria de desejar a todos uma boa semana de trabalho honesto.

Saúde, paz e vergonha para todos.

Virgílio Agra.


OBS: Como amostra do raciocínio dos bons sertanejos como João Craíba, segue agora a emblemática música composta pelo médico e compositor pernambucano Zé Dantas, na voz do imortal Rei do Baião, Luiz Gonzaga

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O som da broca do dentista faz o homem gemer sem sentir dor

(escrito em 19/04/2009)

Colegas de todas as dores.

Duvido ter um macho que tenha ousadia de dizer que não tem medo de broca de dentista. Se aparecer um homem ou mulher capaz de dizer uma coisa dessas, eu duvido que alguém acredite.

Eis que este pobre caeté encontra-se realizando tratamento dentário e, na semana que passou, teve o desprazer de ouvir o som que incomoda a 100% de todos aqueles que sentam na cadeira do dentista. Eu juro a vocês que passei mal, só por ouvir aquele som miserável. Antes de a dentista começar a encostar aquele aparelho de tortura nos meus dentes, o meu estômago contraiu-se de tal forma que quase desapareceu e eu me perguntei:

- Como é possível um aparelho me causar tamanho incômodo sem ao menos me tocar?

Vocês podem até discordar de mim, mas antes que terminasse a "sessão desconforto" eu cheguei à conclusão que existe uma relação direta entre a broca do dentista e a mulher. Ambas fazem um homem gemer sem sentir dor.

Aqueles que tiveram o prazer de viver os anos 80, com certeza, lembram-se quando Amelinha lançou a música "Mulher nova bonita e carinhosa, faz o homem gemer sem sentir dor". Foi um sucesso. E foi nessa época que uma amiga minha, moça, pura e donzela, durante a aula e perante toda a turma perguntou:

- Professor! Como é possível uma mulher fazer um homem gemer sem sentir dor?

Dá para imaginar a cena?... A turma inteira caiu na risada. O professor não respondeu a pergunta da aluna, mas, caso tivesse se lembrado da broca do dentista, talvez tivesse dado uma resposta que dispersaria, pelo menos momentaneamente, a sua dúvida e ainda estimularia os demais pupilos a perceberem, que na análise do binômio causa x efeito, o mesmo efeito pode ter origem em mais de uma causa.

Hoje, casada e mãe de família, minha amiga Lurdinha não tem mais essa dúvida, mas mantém um coração puro, presente em todos aqueles que não cansam nunca de fazer o bem ao próximo.

Desejo a todos uma ótima semana e uma boa saúde bucal.

Saúde e paz,

Virgílio Agra.


PS: "Mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor", de Zé Ramalho e Otacílio Batista, foi um grande sucesso de audiência na voz de Amelinha. Aqui vai a interpretação dessa bela música na voz marcante de Zé Ramalho.
 
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