Palácio Floriano Peixoto – Maceió-AL
Colegas de todas as moradias
Que a capital caeté, famosa pela beleza de suas praias, é um bom lugar para se morar isso ninguém questiona. Nos tempos de hoje os endereços mais procurados, e mais caros também, são aqueles próximos à orla marítima e se for, na área da Ponta Verde, aí então é melhor ainda. Mas, apesar dessa preferência pela brisa carregada de maresia, alguns endereços longe do barulho das ondas do mar são bastante disputados.
No centro histórico de Maceió, em frente à Igreja dos Martírios, o Palácio Floriano Peixoto, antiga sede do governo alagoano, sempre foi um endereço bastante desejado e disputado. Entre o palácio e a igreja, uma praça garante um adequado distanciamento entre os dois prédios. De um lado da praça, no sopé da barreira que delimita a parte alta e baixa da cidade, a igreja dos Martírios, construída num plano mais alto, simboliza a casa de Deus, senhor dos céus. Já do outro lado da praça, num plano mais baixo, o palácio Floriano Peixoto, que foi durante muitos anos a morada e local de trabalho dos governadores do estado, é até hoje o maior símbolo do poder na terra dos caetés.
As diferenças entre as duas construções são visíveis e bem marcantes. No lado de baixo da praça encontra-se um prédio muito bem preservado. Já no lado de cima, apesar de suas características arquitetônicas, as manchas nas paredes e a degradação dos azulejos da fachada e torres mostram, inquestionavelmente, o descaso com o patrimônio histórico e cultural. No lado de cima da praça, enquanto o templo simboliza a busca por um reino dos céus, o lado de baixo é a marca do mais terreno dos poderes. Apesar das diferenças reais e simbólicas entre os vizinhos da praça proporcionar uma lista bastante longa, a proximidade entre ambos gerou certa identidade, no mínimo, bastante curiosa.
Apesar do palácio ser o símbolo do domínio sobre todo o estado, coube à igreja, pelo menos na cultura popular, o predomínio sobre toda a praça. Curiosamente, a praça não é conhecida como "Praça do Palácio", mas sim como Praça dos Martírios. Até o Palácio Floriano Peixoto é conhecido popularmente como Palácio dos Martírios, nome que me parece bastante adequado, considerando-se a repercussão de muitos acontecimentos ligados ao exercício do poder local. Há que se admitir que aquela casa foi, muitas vezes o símbolo de um verdadeiro martírio tanto para o povo do estado quanto para os seus ocupantes. Dentre os acontecimentos, e foram vários, que simbolizaram o martírio dos seus ocupantes, vou contar um que é um verdadeiro clássico da política caeté.
Conta-se que, lá pelos idos de 1950 e alguma coisa, Sivestre Péricles de Góis Monteiro era governador das terras caetés. Quando chegou a época da eleição que iria escolher o seu sucessor, a disputa polarizou-se entre o candidato apoiado por Silvestre e o seu arquiinimigo Arnon Afonso de Farias Melo. Como estava em jogo não apenas questões políticas, mas, principalmente, questões pessoais, a campanha foi muito acirrada com duros golpes de lado a lado. Quando chegou o dia da abertura das urnas o resultado sagrou vencedor Arnon de Mello. Inconformado, mas impossibilitado de reverter a situação, Silvestre Péricles decidiu que não entregaria o cargo sem antes infernizar a estada do futuro morador no palácio. Eu não sei se Silvestre gostava de rezar, mas eu acho que, olhando para o outro lado da Praça dos Martírios, apreciando a igreja, o velho político se inspirou na passagem bíblica que diz: "ao barro voltarás". Eu sei que na Bíblia não está escrito barro, está escrito pó, mas pó, cinza, terra e barro são elementos tão próximos um do outro que vamos deixar assim mesmo.
Na noite da véspera da posse, Silvestre executou o seu incomum plano. Do outro lado daquilo que poderíamos chamar de "centro histórico de Maceió", na Cadeia Pública, a morada que ninguém queria ter, chegou uma ordem do próprio governador: O delegado deveria libertar todos os presos que fossem capazes de encher uma lata de merda. Vocês não entenderam? Bastava uma lata cheia de "cocô", de um barro, que o preso deveria ser solto imediatamente. Nesta noite o movimento na Praça da Cadeia foi frenético. No começo eram os policiais saindo às pressas para comprar óleo de rícino, para que os presos pudessem estimular as atividades "defecativas", e a partir de certas horas eram os presos saindo na carreira, enquanto carros levavam as latas de "barro" para serem entregues ao chefe maior.
De madrugada, de posse da sua inusitada encomenda, Silvestre esfregou o "cocôteúdo" das latas em todas as paredes, teto, tapetes, piso, torneiras e maçanetas do Palácio Floriano Peixoto. Em seguida abandonou o prédio que, a esta altura dos acontecimentos, exalava um fedor tão forte que até o Marechal Floriano Peixoto, que ao pó já havia retornado, devia estar se sentido bastante incomodado.
Hoje, o Palácio Floriano Peixoto, devidamente restaurado e principalmente limpo, inserido num quarteirão coberto de belos jardins, é um belo museu na capital caeté. Nos fundos desse quarteirão ajardinado foi construído um prédio bonito, moderno, todo envidraçado, o Palácio República dos Palmares, nova sede do poder terreno no estado.
Mas além de sua crônica política sui generis as terras caetés também tem cultura e folclore. Como por exemplo, o pastoril, folguedo onde duas alas de moças, denominadas pastorinhas, disputam a simpatia do público dançando e cantando músicas que exaltam o nascimento do menino Jesus. Uma ala veste a cor azul e a outra a cor vermelha, coincidentemente as cores da bandeira do estado, e são denominadas de cordão azul e cordão encarnado.
No próximo final de semana, mais uma vez, estará em disputa o governo das terras caetés. Um dos concorrentes, candidato à reeleição, adotou como símbolo a cor azul enquanto o outro, ex-governador com dois mandatos, adotou a cor vermelha. Neste pastoril da política, falta bem pouquinho para sabermos se sairá do cordão azul ou do cordão encarnado o velho morador do novo palácio.
Enquanto isso, do outro lado da praça, morando numa construção imponente, apesar da degradação causada pelo tempo e pelo descaso, Nossa Senhora dos Martírios... Rogai por nós.
Aos meus amigos servidores da justiça eleitoral desejo muito sucesso nas atividades deste 2º turno de eleições, etapa importantíssima para a definição do futuro deste grande país, e a todos um bom final de semana e bom feriadão.
Saúde, luz e paz.
Que a capital caeté, famosa pela beleza de suas praias, é um bom lugar para se morar isso ninguém questiona. Nos tempos de hoje os endereços mais procurados, e mais caros também, são aqueles próximos à orla marítima e se for, na área da Ponta Verde, aí então é melhor ainda. Mas, apesar dessa preferência pela brisa carregada de maresia, alguns endereços longe do barulho das ondas do mar são bastante disputados.
No centro histórico de Maceió, em frente à Igreja dos Martírios, o Palácio Floriano Peixoto, antiga sede do governo alagoano, sempre foi um endereço bastante desejado e disputado. Entre o palácio e a igreja, uma praça garante um adequado distanciamento entre os dois prédios. De um lado da praça, no sopé da barreira que delimita a parte alta e baixa da cidade, a igreja dos Martírios, construída num plano mais alto, simboliza a casa de Deus, senhor dos céus. Já do outro lado da praça, num plano mais baixo, o palácio Floriano Peixoto, que foi durante muitos anos a morada e local de trabalho dos governadores do estado, é até hoje o maior símbolo do poder na terra dos caetés.
As diferenças entre as duas construções são visíveis e bem marcantes. No lado de baixo da praça encontra-se um prédio muito bem preservado. Já no lado de cima, apesar de suas características arquitetônicas, as manchas nas paredes e a degradação dos azulejos da fachada e torres mostram, inquestionavelmente, o descaso com o patrimônio histórico e cultural. No lado de cima da praça, enquanto o templo simboliza a busca por um reino dos céus, o lado de baixo é a marca do mais terreno dos poderes. Apesar das diferenças reais e simbólicas entre os vizinhos da praça proporcionar uma lista bastante longa, a proximidade entre ambos gerou certa identidade, no mínimo, bastante curiosa.
Apesar do palácio ser o símbolo do domínio sobre todo o estado, coube à igreja, pelo menos na cultura popular, o predomínio sobre toda a praça. Curiosamente, a praça não é conhecida como "Praça do Palácio", mas sim como Praça dos Martírios. Até o Palácio Floriano Peixoto é conhecido popularmente como Palácio dos Martírios, nome que me parece bastante adequado, considerando-se a repercussão de muitos acontecimentos ligados ao exercício do poder local. Há que se admitir que aquela casa foi, muitas vezes o símbolo de um verdadeiro martírio tanto para o povo do estado quanto para os seus ocupantes. Dentre os acontecimentos, e foram vários, que simbolizaram o martírio dos seus ocupantes, vou contar um que é um verdadeiro clássico da política caeté.
Conta-se que, lá pelos idos de 1950 e alguma coisa, Sivestre Péricles de Góis Monteiro era governador das terras caetés. Quando chegou a época da eleição que iria escolher o seu sucessor, a disputa polarizou-se entre o candidato apoiado por Silvestre e o seu arquiinimigo Arnon Afonso de Farias Melo. Como estava em jogo não apenas questões políticas, mas, principalmente, questões pessoais, a campanha foi muito acirrada com duros golpes de lado a lado. Quando chegou o dia da abertura das urnas o resultado sagrou vencedor Arnon de Mello. Inconformado, mas impossibilitado de reverter a situação, Silvestre Péricles decidiu que não entregaria o cargo sem antes infernizar a estada do futuro morador no palácio. Eu não sei se Silvestre gostava de rezar, mas eu acho que, olhando para o outro lado da Praça dos Martírios, apreciando a igreja, o velho político se inspirou na passagem bíblica que diz: "ao barro voltarás". Eu sei que na Bíblia não está escrito barro, está escrito pó, mas pó, cinza, terra e barro são elementos tão próximos um do outro que vamos deixar assim mesmo.
Na noite da véspera da posse, Silvestre executou o seu incomum plano. Do outro lado daquilo que poderíamos chamar de "centro histórico de Maceió", na Cadeia Pública, a morada que ninguém queria ter, chegou uma ordem do próprio governador: O delegado deveria libertar todos os presos que fossem capazes de encher uma lata de merda. Vocês não entenderam? Bastava uma lata cheia de "cocô", de um barro, que o preso deveria ser solto imediatamente. Nesta noite o movimento na Praça da Cadeia foi frenético. No começo eram os policiais saindo às pressas para comprar óleo de rícino, para que os presos pudessem estimular as atividades "defecativas", e a partir de certas horas eram os presos saindo na carreira, enquanto carros levavam as latas de "barro" para serem entregues ao chefe maior.
De madrugada, de posse da sua inusitada encomenda, Silvestre esfregou o "cocôteúdo" das latas em todas as paredes, teto, tapetes, piso, torneiras e maçanetas do Palácio Floriano Peixoto. Em seguida abandonou o prédio que, a esta altura dos acontecimentos, exalava um fedor tão forte que até o Marechal Floriano Peixoto, que ao pó já havia retornado, devia estar se sentido bastante incomodado.
Hoje, o Palácio Floriano Peixoto, devidamente restaurado e principalmente limpo, inserido num quarteirão coberto de belos jardins, é um belo museu na capital caeté. Nos fundos desse quarteirão ajardinado foi construído um prédio bonito, moderno, todo envidraçado, o Palácio República dos Palmares, nova sede do poder terreno no estado.
Mas além de sua crônica política sui generis as terras caetés também tem cultura e folclore. Como por exemplo, o pastoril, folguedo onde duas alas de moças, denominadas pastorinhas, disputam a simpatia do público dançando e cantando músicas que exaltam o nascimento do menino Jesus. Uma ala veste a cor azul e a outra a cor vermelha, coincidentemente as cores da bandeira do estado, e são denominadas de cordão azul e cordão encarnado.
No próximo final de semana, mais uma vez, estará em disputa o governo das terras caetés. Um dos concorrentes, candidato à reeleição, adotou como símbolo a cor azul enquanto o outro, ex-governador com dois mandatos, adotou a cor vermelha. Neste pastoril da política, falta bem pouquinho para sabermos se sairá do cordão azul ou do cordão encarnado o velho morador do novo palácio.
Enquanto isso, do outro lado da praça, morando numa construção imponente, apesar da degradação causada pelo tempo e pelo descaso, Nossa Senhora dos Martírios... Rogai por nós.
Aos meus amigos servidores da justiça eleitoral desejo muito sucesso nas atividades deste 2º turno de eleições, etapa importantíssima para a definição do futuro deste grande país, e a todos um bom final de semana e bom feriadão.
Saúde, luz e paz.
Virgílio Agra
(escrito em 28/10/2012)