(escrito em 10/11/2009)
Colegas de todos os livros.
Aconteceu na última semana, no Centro de Convenções de Maceió, a IV Bienal Internacional do Livro de Alagoas, cujo homenageado foi o caeté José Marques de Melo que, para atender a todos os compromissos do evento, teve que se afastar uns dias da terra da garoa e usufruir um pouco do seu apartamento em Maceió na praia de águas mornas da Jatiúca.
Quando da sua chegada, Zé Melo promoveu um pequeno encontro, uma tertúlia segundo o próprio anfitrião, no seu apartamento com alguns escritores santanenses e, quem diria, entre os convidados lá estava este humilde caeté com a bagagem de um blog na internet e um currículo que não enche nem um dedal. Conversa vai, conversa vem... Muitas histórias de Santana do Ipanema, até que Zé Melo começou a contar uns causos do seu pai, o Seu Leusinger, do qual já tive oportunidade de falar aqui nas Saudações.
Contou Zé Melo que certo dia seu pai chegou a São Paulo e foi logo dizendo que fora lá para conhecer um filme em CinemaScope, uma técnica que garantia uma projeção em formato bem maior que aquele usado até então e que foi largamente utilizada entre 1953 e 1967. Considerando-se o tamanho da viagem e a determinação do homem, Zé não teve alternativa senão procurar saber de uma fita em exibição que fora produzida com aquela tecnologia e a escolha recaiu sobre um filme estrelado por Burt Lancaster. No decorrer do filme, durante uma cena em que o mocinho se balançava num trapézio, o efeito produzido pela imagem de alta qualidade levou Seu Leusinger a sentir enjôo. Aperreado, falou para seu filho que estava com vontade de vomitar. Prontamente Zé pegou-o pelo braço e o conduziu para o banheiro onde poderia então se aliviar. Saiu um tanto quanto apressado, mas antes de chegar ao destino, a pressão foi tanta que o velho não aguentou, abriu a boca e derramou um jato de "lava" quente nos pés de, nada mais nada menos, Agnaldo Rayol, cantor romântico que naquela época encontrava-se no auge da sua carreira.
Todos nós rimos com essa história e outras tantas até que, tendo em vista o adiantado da hora, cada um foi para sua casa.
No dia da abertura da Bienal, dia 30, lá estava eu, visitando todos os stands e me lembrando do período em que, morando na Cidade Maravilhosa, tive pela primeira vez a oportunidade de visitar uma Bienal, com certeza muito maior que à Bienal caeté.
Na segunda-feira, dia 02, retornei ao Centro de Convenções com um objetivo muito claro, assistir uma mesa-redonda sobre o livro de Zé Melo que trata da sua trajetória de jornalista e escritor. Logo no início do evento, percebi que alguma coisa não estava bem. Comecei a sentir um mal-estar e, em determinado momento, chamei minha esposa Eliane para sairmos. Uma vez fora da sala onde se realizava a palestra não tive dúvidas, caminhei o mais rápido que pude em direção à saída, pois pressentia o que estava por vir. A vista começou a ficar escura e só não desmaiei porque cheguei à porta de saída e, imediatamente, me sentei no primeiro degrau com aquela certeza de que sentado não cairia.
Apesar de permanecer consciente eu me sentia fraco e não conseguia nem falar. Preocupada em me levar para um lugar onde eu pudesse ser socorrido, Eliane me perguntava onde eu havia estacionado o carro e eu só conseguia levantar a mão e apontar na direção em que o carro estava no meio do estacionamento lotado. Percebi que os seguranças se aproximaram e tentavam me ajudar, mas eu não conseguia me levantar nem atender aos seus questionamentos.
Em determinado momento, senti algo que parecia uma ânsia de vômito e me lembrei dos pés do Aguinaldo Rayol. Mas não foi desta maneira que a minha história aconteceu porque, de repente, a pressão que era para cima inverteu o sentido, numa evocação ao adágio popular que diz: “O buraco é mais embaixo”. Nessa altura do campeonato já havia recobrado um pouco das minhas forças e pedi ajuda aos seguranças para ir ao banheiro. Acredito que quem viu a cena sem saber o que estava acontecendo, deve ter pensado que os "homi tava" carregando um bêbado, porque era assim que eu me sentia. Eu conseguia dar as passadas, mas, sem ter o equilíbrio, não poderia dispensar a ajuda dos dois senhores que me seguravam, um em cada braço.
Para minha sorte o banheiro aparentava estar limpo, porque com a minha dificuldade de equilíbrio eu não sei o que seria de mim. Com muito controle consegui tirar a camisa e baixando as calças sentei sem cerimônia no trono. Enquanto sentia a descida de uma massa disforme e líquida percebi a subida de um cheiro nauseabundo que botou os seguranças para correr. Minha valorosa esposa, com medo de ficar viúva, resistiu bravamente enquanto, de instantes em instantes, perguntava:
- Virgílio você está bem?
Na verdade, considerando que aquilo que saíra não prestava mesmo, eu só podia me sentir melhor. O sangue voltou a circular e eu, debruçado sobre os joelhos, comecei a suar tão abundantemente que o suor escorria pelo rosto e pingava no fundo da cueca esticada entre as canelas. De repente ouvi a voz de alguém perguntando por um homem que estava passando mal. Tratava-se do médico de plantão do Posto de Atendimento Médico da Bienal, então ouvi a voz de Eliane que disse:
- Doutor é melhor o senhor sair daqui que o cheiro está terrível.
A partir daí então, eu fui me sentindo mais aliviado e cada vez melhor, até que pude sair daquele assento nada confortável. Após algumas providências básicas como dar descarga, lavar as mãos e o rosto, fui caminhando com cuidado e acompanhado por minha fiel escudeira ao Posto Médico onde fui examinado, respondi algumas perguntas do médico e soube que, mesmo após estar me sentindo bem melhor, minha pressão arterial ainda media nove por seis. Até hoje eu me pergunto que marca ela alcaçou no auge dos acontecimentos. Como o exame clínico não acusou maiores anormalidades e eu já estava me sentindo bem, apesar da pressão continuar baixa, o médico permitiu que eu voltasse para casa... Com Eliane dirigindo, é claro.
Hoje eu estou bem e muito feliz ao saber que a Bienal Internacional do Livro superou todas as expectativas de público e de vendas, firmando-se como um importante evento cultural das terras caetés.
Uma boa semana para todos.
Saúde, luz e paz.
Virgílio Agra.
Aconteceu na última semana, no Centro de Convenções de Maceió, a IV Bienal Internacional do Livro de Alagoas, cujo homenageado foi o caeté José Marques de Melo que, para atender a todos os compromissos do evento, teve que se afastar uns dias da terra da garoa e usufruir um pouco do seu apartamento em Maceió na praia de águas mornas da Jatiúca.
Quando da sua chegada, Zé Melo promoveu um pequeno encontro, uma tertúlia segundo o próprio anfitrião, no seu apartamento com alguns escritores santanenses e, quem diria, entre os convidados lá estava este humilde caeté com a bagagem de um blog na internet e um currículo que não enche nem um dedal. Conversa vai, conversa vem... Muitas histórias de Santana do Ipanema, até que Zé Melo começou a contar uns causos do seu pai, o Seu Leusinger, do qual já tive oportunidade de falar aqui nas Saudações.
Contou Zé Melo que certo dia seu pai chegou a São Paulo e foi logo dizendo que fora lá para conhecer um filme em CinemaScope, uma técnica que garantia uma projeção em formato bem maior que aquele usado até então e que foi largamente utilizada entre 1953 e 1967. Considerando-se o tamanho da viagem e a determinação do homem, Zé não teve alternativa senão procurar saber de uma fita em exibição que fora produzida com aquela tecnologia e a escolha recaiu sobre um filme estrelado por Burt Lancaster. No decorrer do filme, durante uma cena em que o mocinho se balançava num trapézio, o efeito produzido pela imagem de alta qualidade levou Seu Leusinger a sentir enjôo. Aperreado, falou para seu filho que estava com vontade de vomitar. Prontamente Zé pegou-o pelo braço e o conduziu para o banheiro onde poderia então se aliviar. Saiu um tanto quanto apressado, mas antes de chegar ao destino, a pressão foi tanta que o velho não aguentou, abriu a boca e derramou um jato de "lava" quente nos pés de, nada mais nada menos, Agnaldo Rayol, cantor romântico que naquela época encontrava-se no auge da sua carreira.
Todos nós rimos com essa história e outras tantas até que, tendo em vista o adiantado da hora, cada um foi para sua casa.
No dia da abertura da Bienal, dia 30, lá estava eu, visitando todos os stands e me lembrando do período em que, morando na Cidade Maravilhosa, tive pela primeira vez a oportunidade de visitar uma Bienal, com certeza muito maior que à Bienal caeté.
Na segunda-feira, dia 02, retornei ao Centro de Convenções com um objetivo muito claro, assistir uma mesa-redonda sobre o livro de Zé Melo que trata da sua trajetória de jornalista e escritor. Logo no início do evento, percebi que alguma coisa não estava bem. Comecei a sentir um mal-estar e, em determinado momento, chamei minha esposa Eliane para sairmos. Uma vez fora da sala onde se realizava a palestra não tive dúvidas, caminhei o mais rápido que pude em direção à saída, pois pressentia o que estava por vir. A vista começou a ficar escura e só não desmaiei porque cheguei à porta de saída e, imediatamente, me sentei no primeiro degrau com aquela certeza de que sentado não cairia.
Apesar de permanecer consciente eu me sentia fraco e não conseguia nem falar. Preocupada em me levar para um lugar onde eu pudesse ser socorrido, Eliane me perguntava onde eu havia estacionado o carro e eu só conseguia levantar a mão e apontar na direção em que o carro estava no meio do estacionamento lotado. Percebi que os seguranças se aproximaram e tentavam me ajudar, mas eu não conseguia me levantar nem atender aos seus questionamentos.
Em determinado momento, senti algo que parecia uma ânsia de vômito e me lembrei dos pés do Aguinaldo Rayol. Mas não foi desta maneira que a minha história aconteceu porque, de repente, a pressão que era para cima inverteu o sentido, numa evocação ao adágio popular que diz: “O buraco é mais embaixo”. Nessa altura do campeonato já havia recobrado um pouco das minhas forças e pedi ajuda aos seguranças para ir ao banheiro. Acredito que quem viu a cena sem saber o que estava acontecendo, deve ter pensado que os "homi tava" carregando um bêbado, porque era assim que eu me sentia. Eu conseguia dar as passadas, mas, sem ter o equilíbrio, não poderia dispensar a ajuda dos dois senhores que me seguravam, um em cada braço.
Para minha sorte o banheiro aparentava estar limpo, porque com a minha dificuldade de equilíbrio eu não sei o que seria de mim. Com muito controle consegui tirar a camisa e baixando as calças sentei sem cerimônia no trono. Enquanto sentia a descida de uma massa disforme e líquida percebi a subida de um cheiro nauseabundo que botou os seguranças para correr. Minha valorosa esposa, com medo de ficar viúva, resistiu bravamente enquanto, de instantes em instantes, perguntava:
- Virgílio você está bem?
Na verdade, considerando que aquilo que saíra não prestava mesmo, eu só podia me sentir melhor. O sangue voltou a circular e eu, debruçado sobre os joelhos, comecei a suar tão abundantemente que o suor escorria pelo rosto e pingava no fundo da cueca esticada entre as canelas. De repente ouvi a voz de alguém perguntando por um homem que estava passando mal. Tratava-se do médico de plantão do Posto de Atendimento Médico da Bienal, então ouvi a voz de Eliane que disse:
- Doutor é melhor o senhor sair daqui que o cheiro está terrível.
A partir daí então, eu fui me sentindo mais aliviado e cada vez melhor, até que pude sair daquele assento nada confortável. Após algumas providências básicas como dar descarga, lavar as mãos e o rosto, fui caminhando com cuidado e acompanhado por minha fiel escudeira ao Posto Médico onde fui examinado, respondi algumas perguntas do médico e soube que, mesmo após estar me sentindo bem melhor, minha pressão arterial ainda media nove por seis. Até hoje eu me pergunto que marca ela alcaçou no auge dos acontecimentos. Como o exame clínico não acusou maiores anormalidades e eu já estava me sentindo bem, apesar da pressão continuar baixa, o médico permitiu que eu voltasse para casa... Com Eliane dirigindo, é claro.
Hoje eu estou bem e muito feliz ao saber que a Bienal Internacional do Livro superou todas as expectativas de público e de vendas, firmando-se como um importante evento cultural das terras caetés.
Uma boa semana para todos.
Saúde, luz e paz.
Virgílio Agra.