segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O tempo em que Santo Antônio viu o sol nascer quadrado

(escrito em 12/04/2009)

Colegas de todas as crenças.

Para aqueles que acham que Queimadas é um bando de mulheres que brincaram com fogo, segue uma pequena ressalva. Queimadas, com "Q" maiúsculo, é uma cidade do sertão baiano, distante cerca de 300 km de Salvador.

Eis que chega ao conhecimento deste pobre caeté que, no início do século XIX, D. Isabel Maria Guedes de Brito era proprietária, por herança, de imensa área de terras às margens do rio Itapicuru. Por conta de um milagre envolvendo sucessivos desaparecimentos de uma imagem de Santo Antônio e o seu reaparecimento ao pé de uma determinada árvore, D. Isabel mandou construir, no lugar onde se situava a tal árvore, uma capela consagrada ao santo milagreiro, consagração esta ocorrida em 13 de junho de 1815. O povoado passou a chamar-se então Santo Antônio das Queimadas. Extremamente devotada, além de construir a igreja, D. Isabel legou grande parte dos seus bens ao santo, tais como terras, gado e escravos.

Em uma ocasião qualquer, ocorreu o assassinato de um homem nas imediações da igreja e as "investigações" apontaram como assassino um escravo, cujo paradeiro não era conhecido. Acontece que as leis do período colonial diziam que, no caso de um crime ter sido cometido por um escravo e o mesmo não fosse apresentado à justiça, o seu proprietário responderia pelo delito. Como Santo Antônio era, legalmente, o proprietário do tal escravo, o coitado do Santo recebeu voz de prisão e foi levado amarrado no lombo de um burro, numa viagem de cerca de 160 km para a sede da Comarca, numa localidade conhecida como Água Fria, ficando preso no quarto da forca enquanto aguardava o desenrolar do processo.

Durante o processo, que durou anos, foram constituídos defensores, ouvidas testemunhas e realizadas audiências nas quais o Santinho teve que sentar no banco dos réus. Finalmente anunciado o veredito, o acusado foi considerado culpado e, proferida a sentença, o Santo teve apreendidos todos os seus bens que foram a leilão, tendo sido arrematados pelo Coronel Francisco de Paula Araújo Brito, de Inhambupe, cidade situada a cerca de 200 km de Santo Antônio das Queimadas.

De volta a sua igreja, pobre, sem possuir um palmo sequer de terra, o Santinho resolveu se vingar dos anos de xilindró. Em 1911 o rio Itapicuru botou uma cheia tão grande que simplesmente arrasou a vila. Calcula-se que a população da época estimada em 2.500 viventes, foi reduzida a menos de 1.000 habitantes.

O tempo passa, o tempo voa e mais uma vez alguém resolveu cutucar os calos do Santo. Em 1915 a então Vila Bela de Santo Antônio das Queimadas passou a categoria de cidade e foi rebatizada, sendo excluindo o nome do Santo, com o nome de Queimadas, nome que persiste até os dias de hoje. Mais uma vez o Santo mandou um recado. Em 22 de dezembro de 1929 o Capitão Lampião fez uma visitinha a este município. Rendeu os soldados da guarnição, soltou os presos da cadeia e prendeu os soldados no xadrez. Os cangaceiros saquearam a cidade, comeram a vontade e dançaram com as moças do lugar, mas, afora o natural constrangimento dos anfitriões, não desrespeitaram as famílias. Em compensação, perpetraram contra os soldados uma das piores chacinas da história do cangaço. Lampião executou todos os 7 soldados a golpes de punhal. Os cangaceiros abriam a grade da cadeia, pegavam um soldado que era conduzido até a calçada do prédio, colocado de joelhos e em seguida executado. Só escapou o sargento comandante da guarnição, porque houveram muitos pedidos da população em seu favor. Mas a história do sargento Evaristo Carlos da Costa é assunto para outra história.

Pois bem colegas, e é para as bandas de Feira de Santana, no estado da Bahia de Todos os Santos, inclusive Santo Antônio, que eu quero mandar um grande abraço, e os meus parabéns para a baiana e caeté honorária, Zeza Carmo, que com muita garra formou-se em Engenharia Ambiental. Parabéns Zeza, você é um exemplo de luta e merece a admiração de todos.

Nesta semana em que tive a honra de receber em terras caetés a visita da caeté honorária Penha Faber, mineira de nascimento, mas residente e apaixonada pela cidade maravilhosa, gostaria de desejar a todos uma ótima semana de trabalho, com muita garra para enfrentar os percalços da vida de todos nós.

Saúde e paz,

Virgílio Agra.

OBS: A história da prisão e julgamento de Santo Antônio pode ser conferida no livro do escritor baiano Oleone Coelho Fontes: O Treme-Terra, Moreira César, a República e Canudos.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Uns nascem para ser padre e outros para padecer

(escrito em 29/03/2009)

Colegas de todos os lugares

O rio Ipanema nasce no município de Pesqueira - PE e, descendo em direção ao rio São Francisco, corta o sertão de Alagoas de norte a sul, desembocando numa localidade conhecida como Barra do Ipanema. Foi no meio do percurso desse rio temporário, como são os rios sertanejos, à sua margem esquerda, no local onde o mesmo recebe as águas do riacho Camoxinga, que surgiu a cidade de Santana do Ipanema, cujo nome homenageia o rio e a sua padroeira Senhora Sant'Ana.

O Ipanema é largo e quando botava uma cheia só podia ser atravessado com canoas, mas quando passava a enchente e o rio secava, pelas suas areias brancas passava gente, animal e carro de bois. O Camoxinga por sua vez é apenas um riacho estreito, o que permitiu desde os tempos mais remotos a construção de obras de travessia. Perto da sua foz, primeiro foi erguida uma pinguela que de vez em quando era levada pelas cheias do riacho, posteriormente foi feita uma ponte de madeira até que, finalmente, foi construída uma ponte de concreto que está lá até os dias de hoje e é conhecida como a Ponte do Padre.

O nome da ponte surge como uma homenagem ao Padre Bulhões que foi pároco da cidade na primeira metade do século passado e morava exatamente do outro lado do Camoxinga de modo que, quem atravessava a ponte passava exatamente na frente da casa do velho patriarca. Natural de Entremontes, localidade situada às margens do canyon do Velho Chico, o Padre Bulhões foi durante meio século uma das maiores autoridades do sertão alagoano. Atuando junto ao povo de toda aquela região era respeitado e admirado por todos, pois ele foi muito mais do que um simples sacerdote, era como se fosse um pai daquelas gentes. Quando a matutada vinha para a feira em Santana, que acontecia na praça em frente à Igreja Matriz, a casa do padre era uma parada obrigatória, na qual todos vinham para pedir a benção e comer numa mesa grande e farta, na qual todos que chegavam podiam comer sem que nunca tivesse faltado comida para ninguém. Ao mesmo tempo em que era bondoso, como um verdadeiro pai também era também rigoroso, não admitindo desvios de comportamento de Seu Ninguém.

Conta-se que o Padre Bulhões tinha uma propriedade lá pras bandas da Barra do Ipanema, onde criava bodes. Naquele tempo a parte mais lucrativa da criação era o couro e não propriamente a carne. Um belo dia, um compadre contou-lhe que o vaqueiro da propriedade estava matando os bodes e faturando as peles por fora. Zangado e acima de tudo muito contrariado o padre sabia que tinha que tomar uma providência. Naquele tempo no sertão, o cabra que era pego roubando sabia que estava condenado à morte, mas esta solução contrariava os princípios éticos daquele santo homem. Após pensar sobre o caso mandou chamar o vaqueiro para uma "conversinha".

Quando o homem chegou, o Padre foi direto ao assunto. Se o patrão fosse outra pessoa talvez o cabra tentasse desmentir a informação, mas mentir para um padre, e ainda mais o Padre Bulhões, era adicionar um pecado grave à lista dos já cometidos. Percebendo que havia sido descoberto o vaqueiro confessou os furtos.

Aí o Padre gritou:

- Major!

A pessoa a quem o Padre chamara não se tratava de nenhuma autoridade policial ou algum remanescente da Guarda Nacional, tratava-se do seu sacristão que era conhecido por esta alcunha.

- Major! Vá agora mesmo chamar a polícia pra levar esse cabra pra cadeia.

Major prontamente atravessou a pinguela do Camoxinga e partiu em direção a cidade. O Padre voltando-se para o infeliz vaqueiro disse:

- Você vai levar uma pisa daquelas de largar o couro. Compreendeu? Compreendeu?

- Sim "Sinhô Seu Pade".

Apesar de saber o que o esperava o cabra não largava o pé do lugar. O medo da polícia era grande, mas o medo de uma maldição do Padre Bulhões era muito maior.

- Quantos filhos você tem?

- Oito "Seu Pade".

- Pois vão “tudo” morrer de fome, porque você vai morrer da pisa que vai levar. Compreendeu? Compreendeu?

- Sim "Sinhô Seu Pade".

Enquanto fustigava o vaqueiro com as suas reprimendas, o Padre olhava pela janela da sala de onde podia ver a pinguela e o caminho que levava à Praça da Matriz. Em determinado momento, ao dar a sua olhada pela janela, o Padre avistou Major fazendo o caminho de volta acompanhado de uma parelha de meganhas. Nesse momento, enfiou rapidamente a mão no bolso da batina, retirou uma nota de vinte mil réis, colocou na mão do vaqueiro e apontando para a porta dos fundos da casa disse:

- Corra desgraçado, porque se a polícia te pegar... Mata mesmo.

Imediatamente, o coitado, saindo pela porta dos fundos, atravessou o quintal do Padre que na época era um grande sítio e, passando sebo nas canelas, meteu-se de caatinga adentro.

Num instantinho os policiais chegaram à casa do Padre que apontando para a direção oposta da fuga gritou:

- Corram por ali que o cabra acabou de atravessar o "Panema".

Imediatamente os policiais saíram na maior carreira para prender aquele que havia ofendido o tão querido Padre Bulhões. Perseguidores para um lado... Perseguido para o outro.

Esse acontecido é um clássico da história da minha terra natal, mas, há uns dias atrás, tive a oportunidade de ouvi-la do filho do Padre Bulhões que ao contrário do que alguns possam estar pensando neste momento, não é filho de uma mula-sem-cabeça.
Silvio Bulhões é filho legítimo do cangaceiro Corisco e da cangaceira Dadá. Devido à vida errante os cangaceiros não podiam criar seus filhos, por isso mandava-os para que pessoas de bem os criassem. O Padre Bulhões criou Silvio, batizando-o com o seu sobrenome. O garoto cresceu, estudou, tornou-se professor e hoje é um avô aposentado que vive em Maceió.

Uma irmã de Silvio, Celeste, foi criada por meu bisavô, o Coronel Sebastião Medeiros. Mas aí... É outra história, de um tempo que virou história.

Desejo a todos uma boa semana de trabalho, estudo ou vida mansa.

Saúde e paz,

Virgílio Agra.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Nem colher nem serra elétrica


(Escrito em 22/03/2009)

Colegas de todas as taras.

Acho que todo mundo já deve ter ouvido falar no provérbio que diz: Em assunto de marido e mulher não se mete a colher. Sem querer entrar na seara do “politicamente correto”, gostaria de fazer uma simples pergunta: E serra elétrica? Pode?

Pois bem! Talvez por desconhecer o antigo brocardo latino "lends picantis in ânus outrem refrigerantum est", um jovem casal, lá pras bandas da terra do Tio Sam, resolveu, literalmente, "apimentar a relação". Acostumado a utilizar um vibrador durante as relações sexuais, o casal do estado yankee de Maryland, tentando aumentar a potência do brinquedinho sexual, teve a "brilhante" idéia de acoplá-lo a uma serra elétrica. Tudo correu bem até que chegou a hora de "um usá-lo no outrem". Não deu em outra, a serra atravessou a parede do vibrador atingindo em cheio a área de lazer. A mulher foi socorrida no hospital Prince George sendo liberada no dia seguinte. O homem teve que prestar esclarecimentos à polícia, mas foi liberado porque o ato, melhor dizer a besteira, foi consensual, não se constituindo em crime segundo a legislação norte-americana e lei, todos sabem muito bem, pode ser dura, mas "sed Lex".

Pois bem colegas, enquanto isso, na ilha onde tremula a "Union Jack", o britânico Gary Bates, de 38 anos, resolveu publicar um anúncio oferecendo sua mulher à venda com os seguintes termos: "Esposa reclamona. Sem taxas, sem inspeção. Manutenção muito elevada".

Esquecendo-se de dois princípios básicos, primeiro: "A propaganda é a alma do negócio"; segundo: "Tem gosto para tudo neste mundo"; o dublê de anta e súdito de sua majestade declarou-se chocado pelo fato de ter recebido cerca de dez ligações de indivíduos interessados no anúncio, fazendo ofertas pelo produto e até perguntando: "Será que ela ainda está disponível?"

Se a moda pega, talvez o mercado de esposas venha a ser uma alternativa no combate a recessão econômica.

Enquanto as antas vivem entre tapas, beijos e serras elétricas, a aeromoça tcheca Edita Schidlerova resolveu atuar como atriz pornô nas suas horas vagas. Segundo a companhia aérea, e eu concordo, o que ela faz antes ou depois do trabalho é problema dela. Porém, depois que uma repórter norte-americana em noticiário ao vivo, sobre o cardápio da companhia aérea Northeast Airlines, confundiu amendoins (peanuts) com pênis e considerando-se que muitos europeus não têm o hábito de lavar as mãos, eu estou profundamente preocupado com o rango servido a bordo dos aviões. Imaginem que uma aeromoça te oferece um alimento cujo nome parece "pênis" e ainda por cima você não sabe em que ela estava segurando antes de embarcar? É bom ficar atento e, para aqueles que vão viajar para a Europa, Edita Schindlerova tem 22 aninhos e trabalha na companhia irlandesa Ryanair.

Colegas, não os saudei à semana passada porque, devido a realização de eleições suplementares em algumas cidades alagoanas, este pobre caeté estava trabalhando para edificar a democracia deste país, por isso, gostaria de desejar em dobro uma ótima semana, com muito sucesso no trabalho e muita harmonia em casa, a vocês e todas as suas famílias.

Saúde e paz,

Virgílio Agra.
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