Meu bisavô Sebastião Medeiros Wanderley com seus filhos e
filhas.
Data provável 1959
Em pé: Pe. Fernando, Ademar, Sebastião, Osman, Tobias, Olivan
e José Arimateia
Sentados: Vovó Lindalva, Donatila, Meu Bisavô, Oralda, Orene
e Oraide.
Colegas
de todas as origens
Onde se cruza a história de uma jovem holandesa e de um simples caeté?
Se vocês estão pensando que este texto é uma repetição de outro escrito, no último dia 02 de maio, estão todos enganados. Esta história aconteceu há quase 200 anos, foi passada de pai para filho durante gerações até que a professora Maria Audite Vanderlei resolveu transcrevê-la.
Audite nasceu lá na beira do Rio Ipanema, no povoado de Poço das Trincheiras. Com cerca de 30 anos de idade ousou, foi para a capital do estado, estudou o curso Normal, formando-se em 1934. Considerando-se que naquela época o ofício da educação era frequentemente exercido por professores leigos, ela é apontada por alguns, como a primeira professora formada, nascida em Santana do Ipanema. Após a formatura, foi lecionar no município de Penedo, localizado no baixo São Francisco, e em seguida exerceu o seu ofício na cidade de São Miguel dos Campos. Finalmente, na década de 40, foi transferida para Santana do Ipanema. Em 1959, quando o Poço se emancipou de Santana, no fervor do entusiasmo emancipacionista, Audite escreveu um trabalho por ela intitulado: "Árvore genealógica da família Vanderlei - Base e padrão do povoamento de Poço das Trincheiras - Alagoas". Esse trabalho, segundo suas próprias palavras, "nada tem de lendário. Bebido na fonte pura da tradição que os nossos avós nos deixaram".
O trabalho de Audite conta a história de um fidalgo holandês que lá nos idos do século XVIII deu uma pisa da gota serena num conterrâneo, também de origem nobre. A confusão foi tão grande que o cabra resolveu fugir do país. Trouxe consigo uma filha chamada Maria, refugiando-se na província de Pernambuco. Instalou-se na Vila do Penedo "onde viveu incógnito até que sentiu que ia morrer. Chamou, então, um amigo e lhe pediu o obséquio de procurar um matuto probo nos costumes, para desposar sua filha única. Só assim poderia morrer tranquilo. Nessa ocasião, abriu a arca de couro e dela tirou o seu título de fidalgo, escrito em letras de ouro, documento que evidenciou a origem de nobreza de sua filha e que, trancado na arca, ocultou, por muito tempo, a identidade de seu possuidor".
" O esposo da jovem fidalga holandesa foi escolhido entre os matutos do sertão alagoano. O seu nome não passou à posteridade porque a esposa fez questão de legar aos filhos, o nome dos seus ascendentes. Orgulho de raça, talvez".
" Não sei quantos filhos teve o casal. O velho Romualdo foi um deles. Quando se tornou rapaz, abandonando a tutela paterna, veio morar no Poço. Aqui viveu cultivando a terra amiga da Serra do Poço para dela tirar o pão de seus filhos".
A história poderia ter transcorrido sem maiores transtornos, mas eis que em 1844, houve uma disputa política em Alagoas que ficou conhecida como a Rebelião dos Lisos e Cabeludos. Apesar da alusão a uma questão capilar, os contendores brigavam mesmo era por dinheiro e poder. Acontece que um dos filhos do velho Romualdo, Antônio Vanderlei, conhecido como Totonho, era partidário de uma das facções. No outro lado da disputa, um dos seus líderes era um padre lá das bandas de Palmeira dos Índios que tinha uma vida, tanto política quanto sexual, muito ativa. Segundo meu amigo Heider Lisboa, ilustre membro do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, o padre tinha um monte de filhos. A questão eclesiástica, com certeza, não será o foco da nossa narrativa, o problema é que os ânimos se exacerbaram a tal ponto que alguém resolveu matar o padre e aí se fez a desgraça. Os filhos do padre que ficaram conhecidos como Irmãos Morais, resolveram se vingar e partiram em busca dos adversários políticos para um acerto de contas. Na sua lista estava Totonho, lá de Poço das Trincheiras.
Os Irmãos Morais iniciaram uma série de assassinatos, roubos e incêndios, tanto contra seus desafetos quanto contra aqueles que se negavam a colaborar com eles. Quando da sua passagem por Santana do Ipanema a sua fama já era grande. Nesta cidade, mediante ameaças, obtiveram informações sobre a aparência e paradeiro de Totonho. De posse das informações desejadas partiram para o ataque ao povoado do Poço.
Segundo Audite, Romualdo Vanderlei "vinha da serra, montado num burrinho, trazendo para a família uma carga de mantimentos. Quando atravessava o leito do rio Ipanema, ouviu e viu o tiroteio. Procurou retroceder, mas foi tarde. Uma bala certeira recebida pelas costas, fê-lo cair emborcado sobre a cavalgadura. Esta cena cruel e dolorosa foi presenciada pela jovem Honória - filha do ferido. Honória casou aos 14 anos de idade e era mãe da 1ª filha (tia Belinha), quando os Morais praticaram a terrível hecatombe que enlutou a família trincheirense daquele tempo. Graciosa e meiga no lar, Honória soube dar o mais inconfundível exemplo de coragem feminina e de amor filial que os próprios inimigos admiraram. No momento em que avistou o pobre pai caído sobre a montaria, compreendeu tudo. Forte e decidida, recalcando a dor, reprimindo as lágrimas, enfrentou a fúria traiçoeira de 40 homens armados e correu a socorrê-lo. Erguendo-o, carinhosamente, encostou a cabeça branca e agonizante do ferido em seu jovem coração e com ternura edificante, confortou-o na hora extrema. Quando viu que já tinha em seus braços, um cadáver, tomando-o nas costas, arrastou-o até sua residência, a maior e mais antiga do Poço, situada em frente à ponte. Essa casa, cujas ruínas, eu ainda alcancei, foi demolida, havendo, atualmente, no terreno, uma nova e bonita construção. Foi ponto de reunião dos filhos e netos da heroína, nas claras noites de luar. Ao cadáver do velho Romualdo, Honória juntou os dos três irmãos - Cazuza, Ambrósio e Delfino, vítimas também da carnificina dos Morais, velando-os até a hora do sepultamento".
De acordo com um texto do meu primo Zé Melo, quando os Morais obtiveram informações sobre Antônio Vanderlei, souberam que ele usava uma barba grande. Acontece que, coincidentemente, naqueles dias ele havia raspado a barba e só escapou da morte porque os bandidos não o reconheceram. Segundo Zé Melo os cabras até entraram na sua casa, mas lá só encontraram uma menina chamada Landelina, perguntaram pelo paradeiro do dono da casa, ela disse que ele não estava e eles partiram a procurá-lo em outras casas do povoado.
O fim dos Irmãos Morais, todos podem imaginar qual foi, mas essa história é triste e eu prefiro continuar contando a história da descendência da holandesa Maria. Seus netos, filhos de Romualdo, que sobreviveram ao massacre foram: João Maurício, Antônio, "Coelho", Honória, Pastora e Candinha. Dentre os filhos de Pastora, um se chamou Romualdo e veio a se tornar o pai de Audite. Dentre os filhos de Antônio, sua filha Landelina veio a ser a bisavó de Zé Melo e dentre os filhos de João Maurício, sua filha Clarabela veio a ser minha trisavó.
Meus caros amigos, ao longo do tempo em que me dirijo a vocês através das Saudações Caetés, tenho o prazer de escrever as histórias que um dia ouvi das mais diversas origens, mas não posso deixar de reconhecer que contar a história dos meus antepassados me dá um prazer todo especial. Como especial é, ter o prazer de desejar a todos uma ótima semana. Espero que todos possam se lembrar dos seus pais, dos seus avós e todos aqueles que um dia lhes antecederam e espero que percebam que a história que escrevemos hoje será aquela que será contada por aqueles que um dia nos sucederão.
Saúde, luz e paz
Virgílio Agra.
Onde se cruza a história de uma jovem holandesa e de um simples caeté?
Se vocês estão pensando que este texto é uma repetição de outro escrito, no último dia 02 de maio, estão todos enganados. Esta história aconteceu há quase 200 anos, foi passada de pai para filho durante gerações até que a professora Maria Audite Vanderlei resolveu transcrevê-la.
Audite nasceu lá na beira do Rio Ipanema, no povoado de Poço das Trincheiras. Com cerca de 30 anos de idade ousou, foi para a capital do estado, estudou o curso Normal, formando-se em 1934. Considerando-se que naquela época o ofício da educação era frequentemente exercido por professores leigos, ela é apontada por alguns, como a primeira professora formada, nascida em Santana do Ipanema. Após a formatura, foi lecionar no município de Penedo, localizado no baixo São Francisco, e em seguida exerceu o seu ofício na cidade de São Miguel dos Campos. Finalmente, na década de 40, foi transferida para Santana do Ipanema. Em 1959, quando o Poço se emancipou de Santana, no fervor do entusiasmo emancipacionista, Audite escreveu um trabalho por ela intitulado: "Árvore genealógica da família Vanderlei - Base e padrão do povoamento de Poço das Trincheiras - Alagoas". Esse trabalho, segundo suas próprias palavras, "nada tem de lendário. Bebido na fonte pura da tradição que os nossos avós nos deixaram".
O trabalho de Audite conta a história de um fidalgo holandês que lá nos idos do século XVIII deu uma pisa da gota serena num conterrâneo, também de origem nobre. A confusão foi tão grande que o cabra resolveu fugir do país. Trouxe consigo uma filha chamada Maria, refugiando-se na província de Pernambuco. Instalou-se na Vila do Penedo "onde viveu incógnito até que sentiu que ia morrer. Chamou, então, um amigo e lhe pediu o obséquio de procurar um matuto probo nos costumes, para desposar sua filha única. Só assim poderia morrer tranquilo. Nessa ocasião, abriu a arca de couro e dela tirou o seu título de fidalgo, escrito em letras de ouro, documento que evidenciou a origem de nobreza de sua filha e que, trancado na arca, ocultou, por muito tempo, a identidade de seu possuidor".
" O esposo da jovem fidalga holandesa foi escolhido entre os matutos do sertão alagoano. O seu nome não passou à posteridade porque a esposa fez questão de legar aos filhos, o nome dos seus ascendentes. Orgulho de raça, talvez".
" Não sei quantos filhos teve o casal. O velho Romualdo foi um deles. Quando se tornou rapaz, abandonando a tutela paterna, veio morar no Poço. Aqui viveu cultivando a terra amiga da Serra do Poço para dela tirar o pão de seus filhos".
A história poderia ter transcorrido sem maiores transtornos, mas eis que em 1844, houve uma disputa política em Alagoas que ficou conhecida como a Rebelião dos Lisos e Cabeludos. Apesar da alusão a uma questão capilar, os contendores brigavam mesmo era por dinheiro e poder. Acontece que um dos filhos do velho Romualdo, Antônio Vanderlei, conhecido como Totonho, era partidário de uma das facções. No outro lado da disputa, um dos seus líderes era um padre lá das bandas de Palmeira dos Índios que tinha uma vida, tanto política quanto sexual, muito ativa. Segundo meu amigo Heider Lisboa, ilustre membro do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, o padre tinha um monte de filhos. A questão eclesiástica, com certeza, não será o foco da nossa narrativa, o problema é que os ânimos se exacerbaram a tal ponto que alguém resolveu matar o padre e aí se fez a desgraça. Os filhos do padre que ficaram conhecidos como Irmãos Morais, resolveram se vingar e partiram em busca dos adversários políticos para um acerto de contas. Na sua lista estava Totonho, lá de Poço das Trincheiras.
Os Irmãos Morais iniciaram uma série de assassinatos, roubos e incêndios, tanto contra seus desafetos quanto contra aqueles que se negavam a colaborar com eles. Quando da sua passagem por Santana do Ipanema a sua fama já era grande. Nesta cidade, mediante ameaças, obtiveram informações sobre a aparência e paradeiro de Totonho. De posse das informações desejadas partiram para o ataque ao povoado do Poço.
Segundo Audite, Romualdo Vanderlei "vinha da serra, montado num burrinho, trazendo para a família uma carga de mantimentos. Quando atravessava o leito do rio Ipanema, ouviu e viu o tiroteio. Procurou retroceder, mas foi tarde. Uma bala certeira recebida pelas costas, fê-lo cair emborcado sobre a cavalgadura. Esta cena cruel e dolorosa foi presenciada pela jovem Honória - filha do ferido. Honória casou aos 14 anos de idade e era mãe da 1ª filha (tia Belinha), quando os Morais praticaram a terrível hecatombe que enlutou a família trincheirense daquele tempo. Graciosa e meiga no lar, Honória soube dar o mais inconfundível exemplo de coragem feminina e de amor filial que os próprios inimigos admiraram. No momento em que avistou o pobre pai caído sobre a montaria, compreendeu tudo. Forte e decidida, recalcando a dor, reprimindo as lágrimas, enfrentou a fúria traiçoeira de 40 homens armados e correu a socorrê-lo. Erguendo-o, carinhosamente, encostou a cabeça branca e agonizante do ferido em seu jovem coração e com ternura edificante, confortou-o na hora extrema. Quando viu que já tinha em seus braços, um cadáver, tomando-o nas costas, arrastou-o até sua residência, a maior e mais antiga do Poço, situada em frente à ponte. Essa casa, cujas ruínas, eu ainda alcancei, foi demolida, havendo, atualmente, no terreno, uma nova e bonita construção. Foi ponto de reunião dos filhos e netos da heroína, nas claras noites de luar. Ao cadáver do velho Romualdo, Honória juntou os dos três irmãos - Cazuza, Ambrósio e Delfino, vítimas também da carnificina dos Morais, velando-os até a hora do sepultamento".
De acordo com um texto do meu primo Zé Melo, quando os Morais obtiveram informações sobre Antônio Vanderlei, souberam que ele usava uma barba grande. Acontece que, coincidentemente, naqueles dias ele havia raspado a barba e só escapou da morte porque os bandidos não o reconheceram. Segundo Zé Melo os cabras até entraram na sua casa, mas lá só encontraram uma menina chamada Landelina, perguntaram pelo paradeiro do dono da casa, ela disse que ele não estava e eles partiram a procurá-lo em outras casas do povoado.
O fim dos Irmãos Morais, todos podem imaginar qual foi, mas essa história é triste e eu prefiro continuar contando a história da descendência da holandesa Maria. Seus netos, filhos de Romualdo, que sobreviveram ao massacre foram: João Maurício, Antônio, "Coelho", Honória, Pastora e Candinha. Dentre os filhos de Pastora, um se chamou Romualdo e veio a se tornar o pai de Audite. Dentre os filhos de Antônio, sua filha Landelina veio a ser a bisavó de Zé Melo e dentre os filhos de João Maurício, sua filha Clarabela veio a ser minha trisavó.
Meus caros amigos, ao longo do tempo em que me dirijo a vocês através das Saudações Caetés, tenho o prazer de escrever as histórias que um dia ouvi das mais diversas origens, mas não posso deixar de reconhecer que contar a história dos meus antepassados me dá um prazer todo especial. Como especial é, ter o prazer de desejar a todos uma ótima semana. Espero que todos possam se lembrar dos seus pais, dos seus avós e todos aqueles que um dia lhes antecederam e espero que percebam que a história que escrevemos hoje será aquela que será contada por aqueles que um dia nos sucederão.
Saúde, luz e paz
Virgílio Agra.
(Escrito
em 29/05/2011).
OBS 1: Se Audite estivesse viva, em setembro deste ano de 2011 estaria completando 110 anos de vida.
OBS 1: Se Audite estivesse viva, em setembro deste ano de 2011 estaria completando 110 anos de vida.
OBS 2:
Estudos recentes apontaram incorreções em alguns dados do trabalho de Audite, apesar
disto, nada tira o mérito do seu pioneirismo no estudo da genealogia do Poço
das Trincheiras.
Segue
abaixo transcrição do trabalho de Audite sendo preservadas tanto a ortografia
original, como mantidos os erros de português, eventualmente cometidos.
https://www.dropbox.com/arvore_genealogica da_familia Vanderlei por Audite Vanderlei.pdf
https://www.dropbox.com/arvore_genealogica da_familia Vanderlei por Audite Vanderlei.pdf
3 comentários:
Sou neta do Ademar Medeiros, filha do José Medeiros. Adorei ver a foto do meu avô, vc deixa eu copiar? obrigada! grande abraço me responda pelo marinete.k@hotmail.com obrigada mais uma vez
Marinete, fico feliz por poder fazer contato contigo através deste blog. Enviarei a foto com muito prazer.
Saúde, sabedoria e paz!
Obrigado pelo seu post. Foi um estímulo para que eu fizesse a minha pesquisa. Sou tetra neto de Antonio Oliveira Wanderley, quinto neto de Romualdo. Por favor se tiver outras informações, gostaria de manter contato. Meu email é awajunior@gmail.com Recentemente atualizei os nossos dados no familysearch
Abraço,
Antonio Wanderley
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