Luís Pedro e Neném
Colegas
de todos os tipos de sucessos
Quando eu era menino, pensava que sucesso era algo que a gente conseguia quando fumava uma marca de cigarros, pois nas mercearias da minha cidade natal tinha uns cartazes onde se lia:
"Vá com "roliúdi" ao sucesso"
Para minha sorte, e azar do meu avô, descobri rapidamente que sucesso era sinônimo de câncer de pulmão e decidi que esse tipo de sucesso não servia para mim.
Em tempos mais distantes, antes de inventarem a palavra globalização, lá no sertão nordestino, sucesso tinha um significado bem diferente. Era o termo usado para denominar tiro acidental e foi com um tiro acidental que aconteceu uma história que foi, mais ou menos, assim:
No final do ano de 1926, ou início de 1927, na fazenda do Coronel Ângelo da Gia, uns cangaceiros jogavam baralho quando um deles, chamado Luiz Pedro, manobrou seu rifle que, acidentalmente, disparou e matou Antônio Ferreira, o irmão mais velho de Lampião. Diante do acontecido uns foram avisar o Capitão, que estava num local distante, enquanto outros colegas aconselharam:
- Luiz Pedro, corra que Lampião vai "lhe" matar.
Consciente de que o tiro não fora intencional, Luiz Pedro decidiu, corajosamente enfrentar o julgamento de Lampião.
Quando o chefe dos cangaceiros chegou, confirmou a morte do irmão e ouviu aqueles que aconselhavam matar sumariamente Luiz Pedro, enquanto outros o defendiam alegando que fora um sucesso. O Capitão então, voltando-se para Luiz teria dito:
- Se você tivesse fugido eu ia "lhe" matar mas, como você ficou e eu já conheço você de muito tempo, vou deixar você viver.
Agradecido pelo voto de confiança do líder Luiz Pedro falou:
- Seu Capitão... O senhor poupou minha vida. Eu juro acompanhá-lo até o fim. No dia em que o senhor morrer, eu morro também.
Os anos se passaram, até que, no amanhecer do dia 28 de julho de 1938, na fazenda Angico, no estado de Sergipe, uma volante alagoana emboscou o bando de Lampião. Foi tiro para todo lado. Enquanto tentavam fugir entre as pedras e a caatinga fechada os cangaceiros respondiam ao fogo, mas nessa altura dos acontecimentos Lampião já estava morto e Maria Bonita, com uma bala na perna, não conseguia escapar. Luiz Pedro foi um daqueles que conseguiu romper o cerco quando ouviu o grito de Dona Maria.
- Compadre Luiz Pedro. Lembra da sua promessa a Lampião?
Quando ouviu o grito Luiz parou. Dá para imaginar quanta coisa passou na mente do cangaceiro? Ele tinha um compromisso e romper com a palavra dada era uma atitude inaceitável no código de honra do cangaço. A vida de bandido era dura, a morte podia chegar a qualquer momento, mas para aquele homem era melhor enfrentar a morte do que levar uma vida de vergonha. Numa tentativa de iniciar um contra-ataque, chamou alguns companheiros, lembrou que Lampião trazia no seu corpo uma espécie de bolsa com muito dinheiro, era o "papo de ema", mas ninguém aceitou voltar. Um deles até disse:
- Luiz Pedro a coisa lá tá feia, se entrar é morte certa.
Nesse momento, ele disse aquelas que seriam suas últimas palavras:
- Um pernambucano morre, mas não quebra um trato.
Tudo isso ocorreu de maneira muito rápida e foi rapidamente que ele teve que tomar a sua decisão. Decidiu voltar. Voltou e morreu vítima do último tiro disparado naquele combate.
Hoje, no tempo da internet e da globalização, do outro lado do mundo, na terra do sol nascente, diante de um grave acidente nuclear, 180 homens aceitaram trabalhar voluntariamente para tentar conter um grande vazamento de radiação. Nós sabemos, e eles também devem saber, que o futuro lhes é extremamente incerto, é por isso que aproveito a oportunidade para desejar a todos eles o mais completo sucesso.
A história esta repleta de eventos em que uma única pessoa, ou um pequeno número delas, aceita sacrificar a própria vida em prol de uma causa. Os valores em jogo podem até sofrer variações, mas em todos esses eventos o que me admira é a capacidade que essas pessoas têm de abrir mão do bem mais precioso que se tem, a própria vida, para salvar a vida de outros ou até mesmo sua própria honra. Não importa se a história contada seja de 300 soldados de Esparta, um cangaceiro do sertão nordestino ou 180 samurais dos tempos modernos, as atitudes de coragem de todos eles merecem o meu mais profundo respeito.
Aos meus amigos desejo uma ótima semana e que a vida reserve a todos o melhor significado da palavra sucesso.
Saúde, luz e paz
Virgílio Agra
OBS: Luiz Pedro é um personagem bem conhecido da história do cangaço. Para redigir esta crônica usei informações obtidas em algumas obras do maior historiador do cangaço, o Dr. Antônio Amaury Corrêa de Araújo.
Quando eu era menino, pensava que sucesso era algo que a gente conseguia quando fumava uma marca de cigarros, pois nas mercearias da minha cidade natal tinha uns cartazes onde se lia:
"Vá com "roliúdi" ao sucesso"
Para minha sorte, e azar do meu avô, descobri rapidamente que sucesso era sinônimo de câncer de pulmão e decidi que esse tipo de sucesso não servia para mim.
Em tempos mais distantes, antes de inventarem a palavra globalização, lá no sertão nordestino, sucesso tinha um significado bem diferente. Era o termo usado para denominar tiro acidental e foi com um tiro acidental que aconteceu uma história que foi, mais ou menos, assim:
No final do ano de 1926, ou início de 1927, na fazenda do Coronel Ângelo da Gia, uns cangaceiros jogavam baralho quando um deles, chamado Luiz Pedro, manobrou seu rifle que, acidentalmente, disparou e matou Antônio Ferreira, o irmão mais velho de Lampião. Diante do acontecido uns foram avisar o Capitão, que estava num local distante, enquanto outros colegas aconselharam:
- Luiz Pedro, corra que Lampião vai "lhe" matar.
Consciente de que o tiro não fora intencional, Luiz Pedro decidiu, corajosamente enfrentar o julgamento de Lampião.
Quando o chefe dos cangaceiros chegou, confirmou a morte do irmão e ouviu aqueles que aconselhavam matar sumariamente Luiz Pedro, enquanto outros o defendiam alegando que fora um sucesso. O Capitão então, voltando-se para Luiz teria dito:
- Se você tivesse fugido eu ia "lhe" matar mas, como você ficou e eu já conheço você de muito tempo, vou deixar você viver.
Agradecido pelo voto de confiança do líder Luiz Pedro falou:
- Seu Capitão... O senhor poupou minha vida. Eu juro acompanhá-lo até o fim. No dia em que o senhor morrer, eu morro também.
Os anos se passaram, até que, no amanhecer do dia 28 de julho de 1938, na fazenda Angico, no estado de Sergipe, uma volante alagoana emboscou o bando de Lampião. Foi tiro para todo lado. Enquanto tentavam fugir entre as pedras e a caatinga fechada os cangaceiros respondiam ao fogo, mas nessa altura dos acontecimentos Lampião já estava morto e Maria Bonita, com uma bala na perna, não conseguia escapar. Luiz Pedro foi um daqueles que conseguiu romper o cerco quando ouviu o grito de Dona Maria.
- Compadre Luiz Pedro. Lembra da sua promessa a Lampião?
Quando ouviu o grito Luiz parou. Dá para imaginar quanta coisa passou na mente do cangaceiro? Ele tinha um compromisso e romper com a palavra dada era uma atitude inaceitável no código de honra do cangaço. A vida de bandido era dura, a morte podia chegar a qualquer momento, mas para aquele homem era melhor enfrentar a morte do que levar uma vida de vergonha. Numa tentativa de iniciar um contra-ataque, chamou alguns companheiros, lembrou que Lampião trazia no seu corpo uma espécie de bolsa com muito dinheiro, era o "papo de ema", mas ninguém aceitou voltar. Um deles até disse:
- Luiz Pedro a coisa lá tá feia, se entrar é morte certa.
Nesse momento, ele disse aquelas que seriam suas últimas palavras:
- Um pernambucano morre, mas não quebra um trato.
Tudo isso ocorreu de maneira muito rápida e foi rapidamente que ele teve que tomar a sua decisão. Decidiu voltar. Voltou e morreu vítima do último tiro disparado naquele combate.
Hoje, no tempo da internet e da globalização, do outro lado do mundo, na terra do sol nascente, diante de um grave acidente nuclear, 180 homens aceitaram trabalhar voluntariamente para tentar conter um grande vazamento de radiação. Nós sabemos, e eles também devem saber, que o futuro lhes é extremamente incerto, é por isso que aproveito a oportunidade para desejar a todos eles o mais completo sucesso.
A história esta repleta de eventos em que uma única pessoa, ou um pequeno número delas, aceita sacrificar a própria vida em prol de uma causa. Os valores em jogo podem até sofrer variações, mas em todos esses eventos o que me admira é a capacidade que essas pessoas têm de abrir mão do bem mais precioso que se tem, a própria vida, para salvar a vida de outros ou até mesmo sua própria honra. Não importa se a história contada seja de 300 soldados de Esparta, um cangaceiro do sertão nordestino ou 180 samurais dos tempos modernos, as atitudes de coragem de todos eles merecem o meu mais profundo respeito.
Aos meus amigos desejo uma ótima semana e que a vida reserve a todos o melhor significado da palavra sucesso.
Saúde, luz e paz
Virgílio Agra
OBS: Luiz Pedro é um personagem bem conhecido da história do cangaço. Para redigir esta crônica usei informações obtidas em algumas obras do maior historiador do cangaço, o Dr. Antônio Amaury Corrêa de Araújo.
Em setembro de 2012, num passeio à cidade de São Paulo, tive a
oportunidade de fazer uma visita ao Dr. Antônio Amaury Corrêa de Araujo. Fica
aqui o registro da ocasião e uma homenagem a este grande homem e pesquisador.