(escrito em 05/08/2009)
Colegas
de todas as biodiversidades!
Sempre enaltecendo a variedade cultural do nosso grande país, estava refletindo
esta semana sobre algumas coisas que, a depender da região, pode ter nomes
completamente diferentes. O "pernilongo" do sul/sudeste é conhecido no nordeste
como "muriçoca" e no norte como "carapanã". O cajá do nordeste é conhecido no norte
como taperebá, enquanto que no sudeste cajá é o nome de outra fruta, que por
sua vez é conhecida no nordeste como cajarana (Ô confusão da peste).
Quando eu era criança, na minha pequena cidade lá no sertão alagoano, lembro-me
que próximo à minha casa havia muitos terrenos baldios e pequenos sítios que invariavelmente
eram cobertos de mato. Às vezes entrávamos nessas áreas para brincar de
polícia e ladrão, para caçar passarinhos (eu era um péssimo caçador, nunca
matei nada) ou simplesmente para explorar o terreno. Lembro-me também que tínhamos
um cuidado especial com urtigas e lagartas de fogo. Tive o desprazer de alguns
encontros casuais com as urtigas, mas, felizmente, com relação às lagartas de
fogo, contentei-me com os relatos dos colegas que juravam que à noite faíscas
podiam ser vistas saltando desses animais.
Consultando uma enciclopédia on-line, descobri que o bicho que eu conhecia como
lagarta de fogo, em alguns lugares é conhecido como marandová e na maior parte
do Brasil é conhecido como taturana, palavra originada do tupi: tata =
"fogo" e rana = "semelhante". Esse gênero de lagartas é
dotado de pelos capazes de liberar um veneno que pode provocar queimaduras na
pele, hemorragia, insuficiência renal e até mesmo provocar a morte. O que as
enciclopédias não ensinam, pelo menos por enquanto, é que em terras caetés a
palavra taturana ganhou um novo significado.
Há uns dois anos atrás, a Polícia Federal desencadeou uma operação policial
para apurar o desvio de aproximadamente 300 milhões de reais da Assembléia
Legislativa do Estado de Alagoas. Tal ação foi denominada de "Operação
Taturana". O desenrolar dos fatos incluiu o afastamento de um pouco mais
de dez deputados estaduais, que por este motivo passaram a ser reconhecidos
como "taturanas", uma verdadeira ofensa as pobres lagartas de fogo.
Após passarem mais de um ano afastados das atividades parlamentares, apesar de
continuarem recebendo durante todo este tempo seus vultosos subsídios, a
aproximadamente uma semana atrás, graças a uma decisão judicial superior, os
"taturanas" retornaram aos seus cargos, um verdadeiro atentado contra
a dignidade dos cidadãos e cidadãs de bem do meu pobre estado.
Não satisfeito com o escandaloso retorno ao cargo, o "deputado"
(assim, entre aspas e com letras minúsculas) Cícero Ferro resolveu atacar o
ex-Desembargador Antônio Sapucaia, responsável pela decisão que levou ao
afastamento da maior parte dos "taturanas". Talvez pelo fato de não
ter, como as lagartas de fogo, pelos capazes de ferir ou machucar, o
"parlamentar" resolveu usar a língua para liberar todo o seu veneno,
desferindo uma campanha difamatória contra o ex-Magistrado, acusando-o de ter
recebido quantia indevida do Tribunal de Justiça de Alagoas.
Indignado com o veneno verbal do "taturana", Sapucaia lançou um
desafio público ao agressor que transcrevo na íntegra conforme publicado no
Jornal Extra Alagoas em 29/07/2009.
“Certo
deputado estadual foi à tribuna da Assembléia Legislativa e a um dos programas
da Rádio
Gazeta e, de forma injuriosa e atrevida, acusou-me de haver desviado R$
1.740.000,00
do Tribunal de Justiça de Alagoas.
Não
conheço pessoalmente o iminente parlamentar (escrevo com “i”, pois ele vive
sempre na iminência de praticar algum mal); nunca lhe fiz crítica alguma; nunca
julguei nada, na condição de magistrado, contra ou a favor dele, ignorando,
portanto, a sua existência, salvo as vezes que o vejo na televisão algemado e
conduzido à cadeia.
Por uma
questão de assepsia moral, não vou citar-lhe o nome. Devo dizer simplesmente
que,
mesmo que eu tivesse a vocação do parlamentar, eu jamais poderia ter desviado
um
centavo que fosse do TJ de Alagoas, porquanto nunca exerci qualquer função
administrativa
naquela Assembléia Judiciária. Tudo que recebi ao longo de 43 anos de
serviço
público, dos quais 37 anos foram dedicados à magistratura, me foi devido..
Desafio a quem quer que seja a provar o contrário, inclusive o próprio Tribunal
de Justiça e o Conselho Nacional de Justiça. Jamais me aconchegou à conta
bancária alguma importância a que eu não fizesse jus, especialmente a fortuna
mencionada irresponsável e levianamente pelo parlamentar.
Se o
deputado não gosta de mim por haver afastado das atividades parlamentares
nove
colegas seus, não havia, como não há, a mais mínima razão para injuriar-me de
forma tão
desbragada e libertina. Importante é pontuar que, ao afastá-los temporariamente
do Legislativo estadual, fi-lo – conforme se vê no meu despacho –, com fito de
que evitassem exercer qualquer influência na colheita de provas na ação em
andamento, atendendo a uma postulação do Ministério Público. Apenas cumpri o
meu dever, e qualquer magistrado de bom senso teria feito a mesma coisa.
Diga-se que em momento algum eu os chamei de ladrões ou bandidos, uma vez que
as provas carreadas para os autos dependiam de apuração a ser feita na
instrução do processo, que deveria ficar a cargo do juiz competente. Se houve
demora na colheita probatória, não me coube nenhuma culpa, como se depreende
das afirmações feitas pelo Dr. Gustavo Souza Lima,
que
justificou as razões da demora no andamento das ações ajuizadas em desfavor dos
parlamentares
afastados.
Portanto,
eu não merecia as pedradas verbais que me foram atiradas pelo neurótico
parlamentar.
É possível que no fundo seja ele uma pessoa de bons predicados, mas seu
comportamento
e as suas manifestações na tribuna da Casa de Tavares Bastos e através da
imprensa mostram, às completas, verdadeiros desvios de conduta, que podem
ser
corrigidos por meio de tratamento psiquiátrico ou, talvez, psicológico. O
parlamentar
é médico
e poderá recorrer aos colegas do ramo especifico, visando curá-lo de seus
destemperos
e das suas diatribes, evitando, assim, que Hipócrates e Tavares Bastos
possam se
contorcer nos respectivos túmulos, arrependidos de terem desperdiçado os
seus
ensinamentos.
Não
pretendo polemizar com o deputado; apenas me limitarei a ajuizar uma ação por
danos
morais, objetivando uma indenização que se destinará à Fazenda Esperança, em
Marechal
Deodoro, que dedica suas atividades à recuperação de drogados. Não é sem
razão que
sempre achei que qualquer tormenta ou dor moral não pode ser ressarcida
com
dinheiro, mas, sim, deve ter função meramente pedagógica, sobretudo se o
dinheiro
é de
origem duvidosa. Insanidade, mendacidade e cleptomania são patologias que,
salvo
engano, podem ser curadas, bastando ter coragem e disposição para fazê-lo.
Dispondo
dos poderes e da impunidade que o cercam, por força do mandato parlamentar,
o
deputado poderá mandar eliminar a minha vida, como costuma fazer, utilizando
armas e
capangas pagos com dinheiro público. Entretanto, em nenhuma circunstância
ele
jamais poderá eliminar a minha dignidade, mesmo usando da sua baba peçonhenta.
Quanto
aos 15 minutos de fama que me foram atribuídos pelo parlamentar, posso afirmar
que foram decorrentes do cumprimento do dever. E se cumprir o dever resulta em
fama, asseguro de consciência tranquila que eu a desfrutei durante 37 anos, em
vez de apenas 15 minutos.
Por
derradeiro, lanço um desafio público ao deputado. Convido-o a provar, em
documento que devamos sacramentar em cartório, se em qualquer tempo da minha
vida
pública
eu usei de algum centavo que não me fosse devido, constando o seguinte
compromisso: se ele provar o contrário, eu renunciarei aos proventos que recebo
como desembargador aposentado; se ele não o fizer, após as devidas
formalidades, o deputado
renunciaria
ao mandato e à atividade política, para o bem e a felicidade do povo alagoano.
Antônio
Sapucaia*"
(*)
Desembargador aposentado, atual Diretor-Presidente do Detran-AL.
Continuando os meus "profundos" estudos de entomologia via internet,
descobri também que a mesma natureza que gerou as taturanas, também gerou os
seus inimigos naturais, quais sejam, uma espécie de mosca e outra de vespa que
depositam seus ovos no corpo das lagartas, cujas larvas alimentam-se das suas
entranhas. Paralelamente ao que ocorre na natureza, nas mesmas terras caetés,
hoje parasitada pelos "taturanas", também encontram-se os seus
respectivos inimigos naturais, quais sejam, cidadãos e cidadãs de bem, pessoas
que através de ações mais incisivas, a exemplo das vespas, dá uma boa e
merecida ferroada nessas venenosas criaturas, como também encontra-se um
eleitorado que, a depender da respectiva escolha, pode muito bem, a exemplo de
uma mosca, estragar a sopa de certa categoria de indivíduos que vive dizendo
por aí que "se lixa para a opinião pública".
Soube ontem que o Ministério Público de São Paulo espera recuperar 300 milhões
de reais desviados dos cofres públicos pelo Sr. Paulo Salim Maluf. Coisas do
nosso país, ao mesmo tempo tão diferente e tão igual. As quantias desviadas são
iguaiszinhas, como iguais também são as expectativas do povo de norte a sul.
Pois bem colegas! Aliviado por me livrar da "porcaria" de uma gripe,
em tempos de gripe suína, aproveito a oportunidade para transmitir a todos
desta vez as minhas saudações vespasianas.
Saúde e paz
Virgílio Agra.