Fim da
viagem em Bruges – Bélgica
900 anos
de história.
Colegas de ambos os lados do mar
Se alguém disser para vocês que,
falando inglês, vocês vão para qualquer parte do mundo, eu aviso, é mentira. Na
viagem empreendida por este caeté e família ao Velho Continente, confesso que o
meu "do you speak english" foi muito útil na Holanda, mas nos demais
países a conversa foi outra. Nas terras italianas a responsável pela pousada
onde nos hospedamos era colombiana e aí apelamos para o velho conhecido
"portunhol", mas, nas ruas de Roma, a origem latina comum ao italiano
e ao português falou mais alto que as receitas prontas dos adeptos da língua de
Shakespeare.
Tanto a semelhança entre os idiomas quanto o jeito comunicativo dos italianos, bem parecido com o jeito dos brasileiros, facilitou muito a comunicação, mas não impediu que nos atrapalhássemos em alguns momentos. Por indicação do dono da pousada, fomos a uma lanchonete que tinha um sorvete fabuloso. Chegando lá, a casa estava cheia e os funcionários corriam de um lado para outro tentando atender a todos. A coisa tava de um jeito que entender como o serviço funcionava já foi uma conquista, mas o problema maior era saber quais eram os sabores dos sorvetes, porque em cada um deles havia uma plaquinha escrita apenas em italiano. Com a ajuda de uma portuguesa que estava na fila consegui identificar alguns sabores, sendo alguns velhos conhecidos e outros que eu nunca tinha ouvido falar. Porém, tinha um sorvete de cor vermelho vivo que me dava água na boca só de olhar, com uma plaquinha escrita a palavra FRAGOLA. Eu olhava aquele sortimento todo e os olhos só paravam no tal do FRAGOLA. O único "Frajola" que eu conhecia era o parceiro do "Piu-piu" dos desenhos animados e a portuguesa já tinha saído e eu não tinha como tirar a dúvida. Finalmente resolvi escolher este sabor e qual não foi minha surpresa, quando descobri que FRAGOLA era MORANGO, um sabor que eu conhecia desde menino quando chupava picolé da Sorveteria Maringá lá em Santana do Ipanema.
Quando saímos de Roma, passamos
por Florença onde, além de nos deliciarmos com o acervo de obras de arte da
família Médici, aproveitamos a oportunidade e fomos a uma feira local onde
compramos presuntos e pães feitos em casa e vendidos pelos próprios produtores,
a exemplo do que ocorre nas feiras livres em qualquer parte do mundo. Quando
nos apresentávamos como brasileiros todos sorriam e nos dispensavam uma atenção
toda especial.
Florença também serviu para mim como ponto de partida para uma visita aos campos de batalha da FEB na Segunda Guerra Mundial. Graças ao apoio do ítalo-brasileiro Mário Pereira, pude conhecer os principais pontos onde se deram as batalhas dos nossos pracinhas. Foi um passeio inesquecível, não apenas pela beleza da região e pelas histórias contadas em detalhes por Mário, mas o fato de ter um tio que participou daquelas batalhas me proporcionou a grata oportunidade de resgatar nas terras d'além mar, um pouco da história da minha própria família. Outra coisa muito boa foi sentir a atenção que as pessoas daquela região dispensavam a nós "brasilianos". Confesso que me senti orgulhoso de ser parte deste grande país, cujos filhos conseguiram firmar laços de fraternidade com um povo distante, apesar de todos os obstáculos, inclusive linguísticos.
Florença também serviu para mim como ponto de partida para uma visita aos campos de batalha da FEB na Segunda Guerra Mundial. Graças ao apoio do ítalo-brasileiro Mário Pereira, pude conhecer os principais pontos onde se deram as batalhas dos nossos pracinhas. Foi um passeio inesquecível, não apenas pela beleza da região e pelas histórias contadas em detalhes por Mário, mas o fato de ter um tio que participou daquelas batalhas me proporcionou a grata oportunidade de resgatar nas terras d'além mar, um pouco da história da minha própria família. Outra coisa muito boa foi sentir a atenção que as pessoas daquela região dispensavam a nós "brasilianos". Confesso que me senti orgulhoso de ser parte deste grande país, cujos filhos conseguiram firmar laços de fraternidade com um povo distante, apesar de todos os obstáculos, inclusive linguísticos.
Finalmente chegamos à França e
acho que foi em Paris o lugar onde tivemos a experiência linguística mais
interessante. Eu sempre tinha ouvido dizer que os franceses não gostavam de
falar inglês e algumas fontes chegavam a referir-se a uma suposta "má
vontade" dos franceses em falar numa língua diferente da sua própria.
Porém, minha filha já tinha me alertado que eles tinham certa dificuldade em
lidar com a língua britânica e eu, sinceramente, acho que esta hipótese tem
algum fundo de verdade. O proprietário do apartamento que alugamos em Paris,
Sr. Edgard, por exemplo, foi de uma gentileza exemplar, no entanto, na hora de
nos comunicarmos tínhamos que usar um misto de inglês, espanhol, português,
mímica e boa vontade, porque a dificuldade de comunicação era enorme, apesar do
esforço que todos desprendiam.
Quando da nossa passagem pelas terras gaulesas, já tínhamos cumprido mais da metade do nosso roteiro de férias e isso permitia fazer algumas comparações na nossa experiência linguística. Se na Holanda o idioma era impronunciável, os batavos compensavam falando inglês. Da mesma maneira, os cardápios, folhetos turísticos e até algumas placas indicativas eram escritas em holandês e em inglês e isso nos permitiu conhecer muito daquele pequeno e belo país. Na França a situação era quase inversa, não falávamos nada em francês e era raro encontrar nas ruas quem falasse inglês, mas, por outro lado, nos museus que visitamos tivemos uma grata surpresa, lá encontramos não apenas atendentes que falavam português, mas também havia folhetos, catálagos, audio-guias e livros com o acervo dos museus tudo em português.
Quando da nossa passagem pelas terras gaulesas, já tínhamos cumprido mais da metade do nosso roteiro de férias e isso permitia fazer algumas comparações na nossa experiência linguística. Se na Holanda o idioma era impronunciável, os batavos compensavam falando inglês. Da mesma maneira, os cardápios, folhetos turísticos e até algumas placas indicativas eram escritas em holandês e em inglês e isso nos permitiu conhecer muito daquele pequeno e belo país. Na França a situação era quase inversa, não falávamos nada em francês e era raro encontrar nas ruas quem falasse inglês, mas, por outro lado, nos museus que visitamos tivemos uma grata surpresa, lá encontramos não apenas atendentes que falavam português, mas também havia folhetos, catálagos, audio-guias e livros com o acervo dos museus tudo em português.
Outro aspecto interessante que pudemos observar nas terras européias foi o comportamento do mercado informal. Enquanto que na Holanda era proibido pedir esmolas, em Roma pudemos ver profissionais da mendicância nas ruas. Por sua vez, o comércio ambulante na Cidade Eterna era praticado principalmente por pessoas de origem asiática, já em Paris o mercado informal era dominado pelos africanos. Quando estávamos no Trocadero, um parque elevado de onde se avista a Torre Eifel e o seu entorno, um vendedor ambulante ouviu o nosso falar e aproximando-se falou com sotaque;
- Brasileiro.
Era um jovem de uns vinte e poucos anos e pela cor não deixava dúvida, era africano legítimo. O cara era preto de um jeito que eu não me lembro de ter visto um igual aqui no Brasil. Puxei conversa e fiquei sabendo que ele era do Senegal, antiga colônia francesa. Ele contou que veio para a França porque na sua terra natal não havia oportunidade de trabalho, mas a vida na Cidade Luz não era mole não. De fato, quando eu estava ao pé da Torre Eiffel, observei uma estranha movimentação dos vendedores ambulantes. Todos começaram a caminhar numa só direção, apressadamente, como se estivessem em fuga. Ficou claro para mim que havia chegado à área algum tipo de fiscal da prefeitura. Após algum tempo, percebendo que os "homi" tinham ido embora, os camelôs começaram a voltar como uma onda que vai e depois vem. É muito engraçado país do primeiro mundo, até ambulante quando foge do "rapa", o faz discretamente. De uma maneira geral, no exterior as pessoas têm o Rio de Janeiro como cidade de referência do Brasil, o jovem senegalês, pelo contrário, citou a cidade de Salvador. Como prova da afinidade entre a Bahia e a África, em dado momento da nossa conversa ele chegou a cantarolar o refrão da música "Canto para o Senegal". Após os cumprimentos de praxe o jovem seguiu o seu caminho batalhando o seu sustento e eu segui o meu, somando mais uma vivência numa viagem rica, culturalmente.
Outro aspecto interessante observado no mercado informal parisiense, foi a presença de artista populares batalhando uns trocados nas suas ruas e metrô. Nos nossos deslocamentos metroviários frequentemente embarcava no mesmo vagão algum artista que tocava uma musiquinha e depois passava o chapéu para colher umas moedas. Coincidentemente, tinha uma estação onde sempre embarcava o mesmo artista, portando uma caixa de som onde tocava um "play back" e ele cantava “La Bamba”, toda vez.
Aproveitamos muito bem cada minuto que passamos na capital francesa até que chegou a hora de embarcar num trem velocíssimo em direção à Bélgica onde fomos conhecer a cidade medieval de Brugges. Mais uma vez não vou desperdiçar o tempo de vocês descrevendo os encantos de uma "cidade cartão postal', mas não poderia deixar de comentar o quanto foi bom caminhar em ruas onde várias casas ostentavam datas de mais de trezentos anos, comer comida irlandesa e tomar cerveja belga produzida pela Inbev, a multinacional belgo-brasileira da cervejaria. Coisas do mercado global... coisas do mercado global.
É, pois, escrevendo esta quarta narrativa, que concluo as aventuras deste simples caeté nas terras d'além mar. Desejando que todos tenham uma ótima semana e que aproveitem bem todas as lições que a vida nos proporciona, tanto de um lado, como do outro do mar.
Saúde, luz e paz
Virgílio Agra
(Escrito
em 10/10/2011)
PS: Apelidamos
nossa viagem de “Invasão ao Velho Continente” e elegemos uma música que simboliza
muito bem nossas impressões na viagem. Com uma majestosa apresentação acústica,
segue aqui “Nós vamos invadir sua praia”, de Roger Moreira e a Banda Ultraje a
Rigor.