sábado, 15 de outubro de 2011

Crime do colarinho branco


(Escrito em 08/12/2008)
Colegas de todos os níveis etílicos.

Chope combina com que?

Segundo a caeté honorária Penha Faber, com a qual eu concordo, chope combina com charque frito, macaxeira e um bom papo, mas, em terras catarinenses, chope combina com causa na justiça federal. Como? Já, já eu explico.

Entendendo que num copo de chope, apenas a parte líquida deveria ser cobrada e que a espuma deveria ser desconsiderada da medida servida, o Inmetro multou um restaurante de Blumenau que serviu esta bebida com espuma, formando aquilo que popularmente se conhece como colarinho. O mesmo apelou para o Tribunal Regional Federal da 4ª Região que, através da sua 3ª Turma, decidiu que o colarinho faz parte do produto. Sabiamente, e para o bem da paz em todas as rodas de chope do país, a relatora do processo, a Desembargadora Maria Lúcia Luz Leiria declarou:

- Entendo que a portaria do Inmetro em tela não se aplica ao chope, na forma em que mediu o fiscal, ou seja, o chope é também o seu colarinho. Assim, a bebida servida pelo restaurante estava de acordo com as caracterizações necessárias.

Num legítimo "jurisdiquês" a nobre magistrada sentenciou o que todo mundo já sabia: "Chope sem colarinho não é chope".

É colegas, num país onde não faltam mazelas, acho que podemos dizer que dessa vez a justiça julgou, literalmente, um caso de "crime do colarinho branco". Com relação ao fiscal do Instituto de Metrologia, do jeito que está chovendo pras bandas do Vale do Itajaí, acho que ele deveria tomar cuidado para não entrar água no chope.

Neste dia 08 de dezembro, espero que todos tenham uma ótima semana, desejo àqueles que estão ao norte do Velho Chico as bênçãos de Iemanjá, para aqueles que estão ao sul, as bênçãos de Nossa Senhora da Conceição e para a filha e caeté Janaína, os meus parabéns por mais um ano.

Aproveitando o feriado em terras caetés, vou tomar meu chopinho que ninguém é de ferro, pois até sino, que tem a boca para baixo, também molha os beiços.

Saúde e paz,

Virgílio Agra.

sábado, 8 de outubro de 2011

Só para homens?


(Escrito em 02/12/2008)

Colegas do sexo masculino. Vocês usam viagra?

Colegas do sexo feminino. Vocês usam sutiã?

Acho que alguns não souberam, mas neste ano, que se acabará nos próximos 30 dias, além da comemoração dos duzentos anos da chegada da família real portuguesa ao Brasil e do centenário da imigração japonesa, estamos comemorando também os 10 anos da segunda revolução sexual. A primeira ocorreu nos idos da década de 60 do século passado, quando as mulheres queimaram os SUTIÃS em praça pública e o mundo viveu a trilogia do "sexo, drogas e rock and roll" (ô tempo bom). A segunda ocorreu exatamente no ano de 1998 com o surgimento do revolucionário VIAGRA.

O princípio ativo, citrato de sildenafila (não confundir com "se fudeu na fila"), foi desenvolvido para aliviar dores no peito, mas quando os pesquisadores começaram a observar os efeitos colaterais nos pacientes do sexo masculino, perceberam que mesmo que o remédio não curasse os males do coração pelo menos permitiria aos seus usuários morrerem de cabeça erguida.

Quando se dará a próxima revolução sexual eu não sei, mas eis que do outro lado do mundo, na terra do sol nascente, uma empresa especializada em lingeries está causando o maior rebuliço por ter incluído no seu mixing de produtos: SUTIÃS para homens. Vendidos ao preço de 30 dólares cada, já vendeu mais de 300 peças em apenas duas semanas de funcionamento. Além dos SUTIÃS masculinos e outras peças voltadas para o público feminino, a loja também oferece calcinhas desenhadas especialmente para um público que deveria gastar o dinheiro comprando VIAGRA e não calcinha.

Já pensaram caros colegas? O sujeito vai para a balada, descola a maior gata, e na hora do "rala e rola" o cara diz:

- Gata, tira o SUTIÃ...

E ela com uma voz sensual, sussurrando no seu ouvido, daquele jeito que faz um VIAGRA tornar-se brinquedo de criança, responde:

- O meu... ou o seu???

Valei-me meu "Padim Ciço", que isso é o fim do mundo!

Do jeito que o mundo está, prefiro continuar contando os "causos" do sertão nordestino. A propósito, lembram-se da história de "Seu" Leusinger que contei na semana passada? Permitam-me compartilhar com vocês o comentário do caeté honorário Jilmar Machado, lá da cidade maravilhosa, que escreveu:

- É interessante como tantas pessoas humildes, como o "Seu" Leusinger Melo praticam a caridade de uma forma tão natural, não é? Sem que percebam, ou se dêem conta, elas espalham o bem ao seu redor sem necessariamente esperar qualquer gesto de gratidão. Fazem isso quase que por instinto. Um dia pretendo chegar a este patamar.

E referindo-se a indicação de "Zé Melo":

- Parabéns pelo sucesso de mais um irmão caeté.

Caro Jilmar, eu que te parabenizo por ter entre as metas da sua vida fazer o bem não interessando a quem.

Colegas, aproveito a oportunidade para desejar a todos uma boa semana de trabalho e, para aqueles que tenham interesse, devo informar que os SUTIÃS masculinos são comercializados nas cores preta, branca e rosa, e podem ser usados discretamente sob a roupa. Quanto ao VIAGRA, quando os cientistas viram os resultados do “citrato não sei de que”, adivinhem em quem eles se inspiraram para batizar o remédio?

Saúde e paz,

Virgílio Agra.

OBS: Vendo essas novidades todas que vem lá das bandas do sol nascente, lembrei-me de uma música composta por Guio de Moraes e gravada por Luiz Gonzaga em 1950, que retrata bem o choque cultural de ontem, como o de hoje também. Vale citar a participação da voz inconfundível do cantor cearense Fagner.

domingo, 2 de outubro de 2011

Hotel Avenida

Foto gentilmente cedida por José Marques de Melo, "Zé Melo".

(Escrito em 23/11/2008)

Colegas de todas as filantropias

Quando eu era garoto, na minha cidade natal, Santana do Ipanema - AL, nos tempos em que usava o cabelo raspado com máquina zero, calças curtas e botas para corrigir as pernas tortas, ia com muita frequência à casa da minha avó e bem em frente aquela casa, bem ali, do outro lado da rua, havia uma casa grande onde funcionava o Hotel Avenida.

O proprietário do hotel, o "Seu" Leusinger Melo, era uma figura que nunca saiu das minhas lembranças. Era um homem esguio, de óculos e eternamente vestido em um pijama de calças e mangas compridas. O hotel era simples, mesmo considerando-se os padrões da época, mas graças à engenhosidade de "Seu" Leusinger, contava com certos equipamentos que dariam inveja a muitos outros dos dias atuais. Funcionando numa região onde a escassez de água era uma constante, o Hotel Avenida era dotado de uma enorme cisterna que, acumulando a água da chuva, nunca deixou que faltasse o precioso líquido no estabelecimento, mesmo nos momentos mais críticos da falta de água na cidade. Contra a falta de energia, outro mal que frequentemente acometia a cidade, o hotel possuía um gerador que assegurava as comodidades da vida moderna a todos os seus hóspedes. Os banheiros, localizados nos corredores, tinham um contato elétrico na porta que acendia a lâmpada assim que a porta era fechada, evitando assim que os menos civilizados esquecessem a luz acesa ao sair do recinto, racionalizando assim o uso da eletricidade. Com o uso de diversos outros artifícios, a mente engenhosa do "Seu" Leusinger garantia o perfeito funcionamento do seu hotel.

A cozinha do hotel era ampla e bem iluminada pela luz do sol que entrava pelo teto. Infelizmente não consigo me lembrar como funcionava aquele sistema de iluminação natural, mas, com certeza, além de permitir a entrada da luz, permitia a saída da fumaça e outros vapores, permitindo que eu sentisse o cheiro gostoso que lá era preparada. No seu comando estava a esposa, Dona Iveta, com a qual tenho laços de parentesco longínquos. Lembro-me da sua figura, uma senhora gorda que fazia uma comida tão bem temperada que até hoje me dá saudades. Muito caridosa, ela e o marido não apenas criaram os filhos do seu matrimônio, mas adotaram com muita dedicação outros, um dos quais, Aguinaldo, foi meu colega de infância.

"Seu" Leusinger tinha um jeito peculiar de fazer o bem ao próximo. Pouco afeito a palavras de gratidão, elogio e outras mais que pudessem parecer bajulação, fazia as coisas de um modo tal que parecia fazer exatamente o contrário. Meu pai me contou que certa vez chegou ao hotel um mendigo pedindo esmola para comer. "Seu" Leusinger de imediato negou, dizendo ao indivíduo que tratasse de trabalhar para comer, pois seu hotel não era casa de caridade. Triste, o mendigo dirigiu-se à porta de saída e quando estava cruzando a soleira da porta ouviu um chamado:

- Hei! Hei! Vem cá.

- Que foi "Seu" Leusinger?

- Vá lá dentro que uma "véia" besta ajeita você.

E, chegando à cozinha, Dona Iveta preparou um belo prato de comida para o deleite do infeliz.

Muitos anos se passaram, "Seu" Leusinger e Dona Iveta já partiram para a eternidade e o Hotel Avenida encerrou suas atividades, mas eis que nesta última semana uma notícia me trouxe de volta a lembrança dessas duas pessoas que tanto marcaram minha infância. Segundo a Agência Brasil, o Ministério da Educação criou uma comissão para estabelecer as novas diretrizes curriculares do curso de jornalismo e, para presidi-la, o próprio ministro da Educação, Fernando Haddad, convidou o professor José Marques de Melo. "Zé Melo" é nada mais nada menos que filho do casal Leusinger e Iveta. O caeté de nascimento traz no seu histórico, entre outras tantas coisas, o fato de ser o fundador da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP).

Meus parabéns "Zé Melo", seu trabalho é motivo de orgulho não apenas para o povo santanense ou alagoano, é acima de tudo mais um gol de placa que você, como um caeté de nascimento, marca para o time de todos aqueles que acreditam ser possível construir uma sociedade melhor, onde todos possam ter acesso a cultura, a educação, a informação e a cidadania, independentemente de sexo, cor, raça, religião ou naturalidade.

A todos os meus colegas desejo uma ótima semana. Envio em anexo um artigo de "Zé Melo", publicado na revista Imprensa, que fala sobre a nossa cidade.

Saúde e paz,

Virgílio Agra.
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